Título: Presidente acena à oposição e chama movimentos sociais para o governo
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Política, p. A8

No primeiro pronunciamento à nação depois da reeleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que seu segundo mandato será marcado pelo desenvolvimento com distribuição de renda e pela educação de qualidade. Em um discurso rápido, de pouco mais de seis minutos, Lula pediu à oposição "esforço e o entendimento nacional" e a colaboração para votar as matérias prioritárias para o país. O presidente também elogiou a estabilidade econômica durante todo o período eleitoral, diferente das oscilações vividas em 2002.

Em cadeia nacional, ontem à noite, Lula usou um tom claramente de conciliação. Em diversos momentos, declarou-se como um homem aberto ao diálogo, com as "mãos estendidas" à conversa e à concórdia. O presidente chamou a sociedade a envolver-se com com seu governo, "a começar pelas lideranças políticas e movimentos sociais", para que seja votada uma "agenda de interesse geral".

Lula acenou à oposição e disse que a votação maciça conquistada lhe "dá plena legitimidade ao exercício do poder" , mas que isso não é suficiente: "Não se resolvem os problemas nacionais num passe de mágica." Em suas palavras, o presidente apontou que, apesar de ter "experiência suficiente para saber que para fazer as coisas com a velocidade que o Brasil necessita", precisa do " empenho e da boa vontade" de diferentes setores sociais.

O presidente petista ressaltou que não mudará seus ideais, nem suas convicções, mas apontou que a oposição também não deve alterar seu ânimo. "Isso não pode impedir que avancemos nos grandes temas de interesse coletivo", disse. Como exemplo da pauta que pretende votar em breve, estão o Fundo Nacional de Educação Básica (Fundeb), a lei geral da micro e pequena empresa e a reforma tributária. "É necessário criar um clima de profunda responsabilidade republicana para a discussão e votação de reformas importantes, a começar pela Reforma Política". Para os governadores e lideranças regionais, Lula pediu entendimento e união em torno de projetos de desenvolvimento e de infra-estrutura.

Na análise feita pelo presidente, sua eleição contrariou todas as críticas feitas pela oposição. O cenário econômico manteve-se estável durante todo o processo eleitoral - "pela primeira vez o Brasil enfrentou uma disputa presidencial sem nenhum tipo de abalo econômico" - e a estabilidade deverá ser "mantida e ampliada". Sua vitória também não dividiu o país, mas sim fez uma "exposição franca dos problemas" e mostrou que "ainda existem brasis profundamente desiguais".

Lula manteve o tom usado durante toda a campanha no horário político, de fazer um novo governo que conjugue "uma política econômica correta e uma forte sensibilidade social, com uma gestão administrativa eficiente e um comando político acertado".

O presidente afirmou que o Brasil tem ainda uma "enorme dívida social a resgatar, um grande atraso político a vencer e questões éticas a discutir e superar", e garantiu seu empenho para acabar com as pendências.

Passada a eleição, o presidente petista disse que continuará empenhado em fazer com que os "órgãos de investigação e da Justiça apurem todas as denúncias de corrupção e que os verdadeiros culpados sejam exemplarmente punidos".

Lula agradeceu à população pelo "belíssimo exemplo de democracia" na eleição e disse que os adversários dos próximos quatro anos serão a " injustiça social, a desigualdade e as várias formas de atraso que atravancam a vida nacional". "Uma eleição não é o fim mas um começo", afirmou.

Por fim, Lula declarou que o país tem "tudo para crescer mais rápido e ampliar as políticas sociais" e deixou a promessa: "Temos tudo para aumentar o emprego, melhorar a educação, a saúde e a segurança" e que os avanços serão acompanhados por "grande responsabilidade na área fiscal e controle da inflação". "Só assim vamos entrar, definitivamente, na rota do crescimento de longo prazo".