Título: PFL busca alianças para comandar Senado
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Política, p. A11

Mesmo com a perspectiva de perder senadores para outros partidos, o que lhe tiraria a prerrogativa de ser a maior bancada do Senado na próxima legislatura, a cúpula do PFL começou a articular apoios para a pretensão de indicar o futuro presidente da Casa. O presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), depois da reunião da Comissão Executiva da legenda que aprovou nota reafirmando o papel de oposição, disse que o PFL "tem o direito de pleitear" a presidência do Senado, já que terá a maior bancada, com 18 senadores. O problema é que, pelas movimentações partidárias anunciadas, o PMDB, que teria 17 senadores pelo resultados das urnas, deverá superar o PFL.

Durante a reunião da Executiva Nacional, o senador Marco Maciel (PFL-PE), ex-vice-presidente da República no governo Fernando Henrique Cardoso, modificou toda a nota submetida por Bornhausen à Executiva, tornando o texto mais ameno. Na versão de Maciel, desapareceram palavras como "vitoriosos" e "mentiras", referentes ao governo, e "perdedores", referentes ao próprio PFL.

Desapareceram também trechos inteiros, como uma citação do "pregão irresponsável e odioso (por parte dos aliados de Lula) de que este país está dividido em pobres e ricos, nordestinos e sulistas, interioranos e urbanos, brancos e negros, o insidioso jogo dos que intrigam para trair a todos". A nota final apenas reafirma o papel de oposição que apontará "equívocos e erros" do governo, mas também proporá "caminhos que levem o país a crescer no plano socioeconômico e da consolidação dos direitos fundamentais da cidadania".

Bornhausen disse que o PFL deve ter candidato próprio a presidente em 2010 e a reeleição do prefeito Gilberto Kassab (SP) em São Paulo, em 2008, será prioridade. Reafirmou a decisão do PFL de conversar com Lula. Para ele, o diálogo tem que se dar no Congresso, por intermédio dos líderes. O presidente do PFL disse que seu partido e o PSDB "têm vida própria, programas diferentes, mas que estarão juntos na mesma trincheira, da oposição".

A perspectiva de o PMDB se tornar a maior bancada do Senado aumenta as chances de reeleição de Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas a mudança de posições dos partidos no ranking das bancadas não desanima o PFL. Seus líderes lembram que a regra segundo a qual a legenda com maior número de parlamentares tem direito a indicar o presidente da Casa é apenas uma tradição.

"É legítima a pretensão do PFL de presidir o Senado, como é legítima a pretensão do PMDB de presidir a Câmara", afirmou Bornhausen, que acertou o apoio do PSDB com o presidente tucano, senador Tasso Jereissati (CE). Entre possíveis nomes, ele citou os de Maciel, do líder José Agripino (RN), de Heráclito Fortes (PI) e Efraim Moraes (PB).

O líder da bancada, que perdeu para José Jorge (PE) a vaga de vice-presidente na chapa do tucano Geraldo Alckmin, está cauteloso. "O presidente Lula vai mover céus e terra para evitar que a oposição ocupe a presidência do Senado", disse Agripino. Segundo o líder da bancada do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), o partido vai negociar conjuntamente as presidências das duas Casas. "Vamos trabalhar na Câmara em prol do Senado. Um caminho é apoiar um candidato do PMDB na Câmara", disse o líder da bancada de deputados, Rodrigo Maia (RJ).