Título: Livre da pressão eleitoral, CPI adia depoimentos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Política, p. A12

Em clima cordial depois dos embates pré-eleitorais, a CPI das Sanguessugas adiou o depoimento de Gedimar Passos, Valdebran Padilha e Jorge Lorenzetti, que estavam marcados para a tarde de ontem. A proposta de adiamento foi feita pelo vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), e teve o apoio do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) e do deputado Paulo Rubem (PT-PE). Não foi marcada nova data para o depoimento. O relator, senador Amir Lando (PMDB-RO), concordou com o adiamento.

Jungmann justificou o pedido de adiamento alegando dois motivos: os freqüentes atrasos nos vôos para Brasília, que teriam impedido que alguns integrantes da CPI chegassem a tempo, e a chegada de novos documentos à comissão, que precisariam ser analisados antes dos depoimentos.

A decisão foi anunciada quando Valdebran já se preparava para depor. Seu advogado, Luiz Antônio Lourenço da Silva, não gostou. Segundo ele, seu cliente não teria novidade a relatar à CPI, além do que já disse nos depoimentos à Polícia Federal e à Justiça Federal. "Não gostei. O adiamento da sessão nos frustrou", disse o advogado.

O presidente da CPI, deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-R), disse que houve um entendimento entre petistas e tucanos para adiar os depoimentos. Perguntado se depois da eleição teria havido um recuo tanto da oposição quanto do governo, Biscaia respondeu: "O clima sempre foi de cordialidade e só azedou quando o eleitor optou pelo segundo turno. Ficou claro que PT e PSDB não querem clima de confronto".

Biscaia disse que a CPI não deve perder o foco - que é investigar a compra superfaturada de ambulâncias com recursos do Orçamento. Segundo ele, a investigação sobre a tentativa de compra de um dossiê envolvendo políticos tucanos no esquema não pode ser a questão principal: "A meu ver, o relatório final tem que mencionar o episódio do dossiê, mas não pode esquecer do objetivo principal da CPI, que é uma rede de fraudes, de corrupção, envolvendo recursos orçamentários. Não vamos deixar de enfrentar essa questão no segundo relatório até dezembro".

Biscaia disse que o relatório será apresentado em dezembro, mas não sabe se haverá quórum para votá-lo: "Espera-se que daqui para frente exista quórum quando necessário para o relatório final".

O relator, senador Amir Lando (PMDB-RO), disse que nada vai impedir que ele conclua a tarefa de elaborar o documento final. "Nosso objetivo maior é não levar a CPI a uma disputa política. A eleição terminou. Agora nós temos que propor sugestões para que fatos da natureza da investigação não se repitam", afirmou.

Ontem, a ex-funcionária do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino negou, em depoimento ao Conselho de Ética, ter acusado 171 parlamentares de participar do esquema de compra superfaturada de ambulâncias. Chorando, ela disse não saber por que está sendo investigada e responsabilizou o delegado da Polícia Federal Tardelli Boaventura pela afirmação. Segundo a ex-funcionária, o número se referia à quantidade de emendas aprovadas para a área.

Maria da Penha também foi funcionária da empresa Planam, acusada de coordenar o esquema. Ela negou ter pago ou mesmo testemunhado o pagamento de propina a deputados. No entanto, disse que ouviu os motoristas da Planam falarem sobre malas de dinheiro encaminhadas para a Câmara.

Segundo a ex-funcionária, o sócio da Planam Darci Vedoin permanecia o tempo inteiro na Câmara e não ficava no escritório da empresa em Brasília. Ela também afirmou que Vedoin e seu filho, Luiz Antônio, iam às prefeituras para negociar a aquisição de ambulâncias.

O trabalho de Maria da Penha na Planam, segundo contou, era emitir pareceres técnicos sobre projetos. Ela disse que nunca viu parlamentares na empresa.

Maria da Penha confirmou que foi indicada para o cargo no

gabinete do então ministro da Saúde Saraiva Felipe pelo líder do PMDB, Wilson Santiago (PB). Ela nega que tivesse a senha de parlamentares para consultar a execução de emendas no Ministério da Saúde. "Se isso ocorreu, foi com os donos da Planam", acusou.

Maria da Penha ainda lembrou que foi secretária de Saúde em Barra do Garças (MT) e já participou do Conselho Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS).