Título: Brasil deve emprestar geradores para a Bolívia enfrentar falta de energia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2011, Brasil, p. A3

O Brasil poderá ceder ou emprestar à Bolívia geradores de energia hoje usados na região Norte do país, para ajudar o país vizinho a enfrentar a escassez energética que vem provocando sucessivos apagões e prejuízos à indústria local. Ontem, segundo informou o assessor internacional da presidência, Marco Aurélio Garcia, uma missão governamental da Bolívia manteve reuniões em Brasília para discutir ajuda "emergencial" do Brasil. "Vamos fazer um empréstimo", garantiu Garcia.

Segundo fontes do Ministério de Minas e Energia, representantes do Ministério de Hidrocarburos boliviano e da Ende, a estatal de energia local, discutiram com o secretário-executivo do ministério, Márcio Zimmermann, alternativas para suprir de energia o país, conforme prometeu a presidente Dilma Rousseff ao presidente Evo Morales. A principal opção em estudo é o aproveitamento de geradores termelétricos da Eletronorte que estão sendo desativados com a adesão das regiões atendidas ao sistema nacional interligado.

Geradores em outras regiões do Brasil poderão também ser transferidos à Bolívia, mas há um problema técnico a ser solucionado, a necessidade de converter os geradores da frequência usada no Brasil, 60 Hz, para a boliviana, 50 Hz. A imprensa boliviana tem noticiado, nos últimos dias, a preocupação da indústria com os frequentes apagões, que já ameaçam os investimentos produtivos no país. Baseada principalmente em geradores a combustível fóssil, a produção energética se ressente da falta de investimentos, inclusive na produção de petróleo no país, afetada pela intervenção do governo sobre a atuação das empresas privadas.

Otimista em relação aos contatos dos governos brasileiro e boliviano, Garcia demonstrou preocupação com outro país vizinho, o Paraguai, onde a oposição tem dificultado a aprovação de matérias de interesse do governo do presidente Fernando Lugo, a ponto de adiar indefinidamente a votação do embaixador indicado para representar o país no Brasil. Desde 2009, o Congresso se recusa a aprovar as indicações de Lugo para a Embaixada no Brasil, comandada pelo encarregado de negócios.

"Lamentamos a desconsideração com o Brasil de uma parte do Congresso paraguaio", comentou Garcia, lembrando que o governo brasileiro enfrentou forte reação da oposição no Brasil para aprovar o acordo que aumentou a quantia paga pelos brasileiros pela energia paraguaia de Itaipu e garantiu financiamento de uma linha de transmissão da hidrelétrica à capital, Assunção. "Imagine que sinal estaríamos mandando ao Paraguai se estivéssemos há dois anos sem embaixador lá."

Garcia disse reconhecer o esforço do governo Lugo, mas afirmou que o "boicote" pelo Congresso "é muito ruim, um sinal negativo que o país envia ao Brasil". (SL)