Título: Estratégia revista
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 19/09/2010, Mundo, p. 22

Ao pé das montanhas de Medellín, a Comuna 13 é uma favela que coloca em xeque não apenas a políticadesegurançadasegundamaior cidade da Colômbia, mas do país inteiro. No início deste mês, seus 134.472 habitantes receberam a visita do presidente JuanManuel Santos, empossado um mês antes.

Foi uma surpresa. Ninguém esperava ver o presidente caminhando pelas ruas, conta ao Correio, por telefone, o cantor CamiloMosquera, morador da comunidade.

Ao mesmo tempo, ele diz que as pessoas esperam muita coisa do novo governo, principalmenteaComuna13, que anda assustada com a nova onda de violência.

Na última década,Medellín tornara-se símbolo de recuperação deumterritório urbano pelo poder público, e agora Santos encomendou uma revisão geral da política, para determinar o que deixou de funcionar.

De janeiro a julho, 2.266 habitantes deMedellín, 400km a noroeste de Bogotá, abandonaram seus lares assediados pela violência.

No período, a cidade registrou 1.250 assassinatos. Durante a visita, Santos prometeu convocar mais 400 policiaisda própria comunidadepara enfrentar o recrudescimento do crime organizado, que parecia sob controle no governo anterior. A Segurança Democrática, de Álvaro Uribe, tinha enorme debilidade no tema urbano, porque foi pensada para recuperar o território rural, onde estão os guerrilheiros e paramilitares, explica à reportagem o professor Jorge Iván Cuervo, da Universidad Externado.

No processo de desmobilização dos paramilitares, muitos regressaram às cidades, com armas, experiência, capacidade de reorganização e vínculos com o narcotráfico, indica Cuervo.

O professor destaca que a Segurança Democrática não previu uma resposta ao fenômeno que o governo chama eufemisticamente de bandos criminosos e bandos emergentes, mas que continuam sendo as mesmas estruturas paramilitares ligadas ao narcotráfico e às guerrilhas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) todos empenhados em controlar rotas para exportar cocaína para os Estados Unidos (via México) e a Europa (via América Central).

Antes havia certa paz, porque todas as estruturas armadas dependiam de Don Berna, um chefe paramilitar que foi extraditado aosEUA. Agora, gente de seu grupo disputa o território do Urabá, que tem saída para o mar. Chegou ainda um grupo chamados urabenhos, que são os herdeiros da estrutura armada paramilitar de DonMario, recém-capturado pelo governo. E setores do Cartel do Norte do Vale também querem se fazer presentes lá, enumera o especialista colombiano.

Além das rotas,Cuervo ressalta que existe toda uma indústria ao redor. Omicrotráfico, a extorsão, a segurança privada que se oferece O que acontece na Comuna 13 é muito parecido com o que acontece nas favelas do Rio de Janeiro, conclui.

Nova política Santos visitou a Comuna 13 no último dia 9, acompanhado do ministro da Defesa, Rodrigo Rivera, e do diretor da PolíciaNacional, general Oscar Naranjo. A ordem do dia foi convocar os moradores para denunciar os criminosos. A comunidade pode servir de fonte de informação, mas também de inspiração, para mostrar como o governo pode melhorar as coisas, disse Santos.

Para o analista Hugo Acero, o trabalho de conseguir informação criminal para julgar as gangues que operam nas comunas deveria corresponder aos organismos de inteligência, especialmente à polícia e à promotoria.

É muito difícil, além de perigoso, colocar essa tarefa para os cidadãos, como propõe o presidente, opina Hugo Acero. Para o especialista, seria mais seguro criar uma polícia comunitária que visite todas as casas três vezes por semana, de maneira a não criminalizar toda a sociedade e não permitir que os bandidos saibam quem os delatou.