Título: Boeing desbanca Airbus em encomenda da TAM
Autor: Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Brasil, p. A12

Um contrato ao redor de US$ 1 bilhão não é exatamente grande dentro do setor de fornecimento de jatos comerciais. Mas um negócio desse porte fechado ontem chacoalhou o setor, não por seu valor em dinheiro, mas por seu significado estratégico. A Boeing selou a venda de quatro jatos para vôos internacionais 777-300 ER para a aérea brasileira TAM e, com isso, avançou sobre o maior cliente da rival Airbus na América Latina.

Atualmente, a frota da TAM é dominada por modelos Airbus - os poucos Fokker-100 que restam vêm sendo devolvidos. A Boeing, por seu lado, tem na Gol o seu cliente-âncora na região.

Mas, ao abrir uma concorrência para comprar mais aeronaves de longa distância há alguns meses, a TAM recebeu da Airbus a informação de que não seria possível atendê-la no prazo desejado. Algumas fontes do setor consideram que essa dificuldade em atender a cliente brasileira está ligada à profunda crise que se abateu sobre o grupo europeu desde que o megaprojeto do A380 começou a atrasar.

A rigor, nem Boeing nem Airbus tinham aviões de segunda mão disponíveis para pronta entregar à TAM no fim do ano, como a empresa queria. O mercado mundial está superaquecido. A melhor solução foi apresentada pela Boeing.

Os quatro novos jatos 777-300 ER só começarão a ser entregues em meados de 2008. Mas, enquanto isso, a TAM assumirá interinamente três jatos MD-11 que estavam com a Varig. Os dois primeiros serão entregues em dezembro e o terceiro, em janeiro. Além disso, a TAM tem quatro opções de compra de jatos 777.

A TAM tem pressa porque precisa iniciar a operação da terceira freqüência diária para Paris e, ao mesmo tempo, espera receber em breve o sinal verde para a rota de Milão, que pertencia à Varig.

Cada 777-300, que comporta 370 passageiros, tem valor de tabela de até US$ 264 milhões. O modelo equivalente da Airbus seria o atual A340. A TAM ainda tem uma grande encomenda pendente de 37 aviões da Airbus, entre modelos A350, A320 e A330.

A Airbus não quis comentar o assunto, mas, segundo o Valor apurou, a decisão da TAM de fechar negócio com a Boeing não caiu muito bem dentro da empresa. Seus executivos não gostaram de ver a relação de longo prazo preterida por uma questão de data de entrega. No final de 2005, a Airbus tinha 25% do mercado na AL, contra 52% da Boeing. Em 2009, a Airbus estima que terá 40% do mercado. Para isso, entretanto, conta especialmente com a TAM.

Marco Bologna, presidente da TAM, disse que a compra de aeronaves da Boeing é um passo importante para o crescimento da companhia nos vôos internacionais, que lhe dará mais flexibilidade. Bologna negou que haverá incremento de custos por conta da diversidade de frota. "Ao contrário, haverá economia, porque é um avião maior."

Os últimos anos foram marcados pelo avanço da Airbus sobre a Boeing. O grupo europeu assumiu a liderança, mas neste ano começou a ver o jogo virar. Com projetos em atraso e suas ações despencando, a companhia trocou o comando e tenta estancar os problemas.

John Wojick, vice-presidente de vendas da Boeing para América Latina e Caribe, comemorou o contrato. "Essa é a primeira compra que a TAM faz da Boeing e estamos animados, porque ela é a maior companhia aérea do Brasil e agora também nos vôos internacionais."