Título: Argentina espera boom em 2012 com óleo e gás de xisto
Autor: Webber,Jude
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2011, Internacional, p. A11

A Argentina pode estar perto de um boom de óleo e gás de xisto parecido com o que transformou o cenário energético dos EUA. A YPF, ex-monopólio estatal, está examinando outra descoberta capaz de produzir 1 bilhão de barris, ao lado de um campo na Patagônia que já tem essa reserva comprovada.

A YPF quase concluiu a perfuração de uma área de 502 km2 ao norte da área já comprovada e acredita que os resultados completos serão igualmente enormes. Dois dos três poços estão sendo explorados e "a produção é exatamente a mesma", afirma Tomás García Blanco, diretor-executivo de exploração e produção.

Questionado se isso prenuncia outra descoberta de 1 bilhão de barris, García Blanco disse: "Sim. Mas enquanto o terceiro poço não for perfurado... preferimos ser cautelosos. Acreditamos que teremos uma posição até o fim do ano ou janeiro de 2012".

A empresa, que é controlado em 57,43% pela espanhola Repsol, anunciou em novembro a descoberta do equivalente a 927 milhões de barris de petróleo em uma área de 428 km2 da formação de Vaca Muerta, no sudoeste da Argentina - mais de seis vezes a estimativa inicial de 150 milhões de barris feita em maio. A descoberta envolve três quartos de óleo e um quarto de gás de xisto, diz a YPF.

Isso, segundo García Blanco, é baseado em estimativas "conservadoras" de que apenas 4% de todos os hicrocarbonetos serão extraídos. Nos EUA há quem acredite que taxas de recuperação de 8% ou mesmo 15% poderão ser possíveis com o tempo - algo que levará a estimativas surpreendentes do potencial do xisto no mundo.

A Argentina já possui uma das maiores e melhores reservas do mundo de hidrocarbonetos de xisto, que se acham presos a milhares de metros de profundidade e são liberados fraturando-se rochas com o uso de água, areia a produtos químicos sob pressão elevada.

Este ano, a Energy Information Administration dos EUA classificou a Argentina na terceira posição global em termos de reservas de gás de xisto tecnicamente recuperáveis, com 774 trilhões de pés cúbicos. Com os resultados da YPF e a exploração intensiva por companhias com experiência em xisto na América do Norte - como a ExxonMobil, Total, EOG Resources e Apache - a Argentina acredita que poderá seguir os passos dos EUA, passando de um produtor maduro, mas em declínio, de petróleo e gás para um novo boom.

"A inundação de companhias começou há seis meses. Agora, estamos começando a ver os resultados", diz Sam Lee, gerente de portfólio do Melchior Resources Fundo, que tem US$ 70 milhões em ativos. Ele possui 8% de seus ativos na Americas Petrogas, que firmou um acordo para a produção de xisto com a Exxon, 5% em outras empresas menores e classifica 2012 como "o ano da virada para o setor do petróleo e do gás na Argentina".

A produção de hidrocarbonetos caiu muito no país nos últimos anos, em meio a políticas não amigáveis ao mercado e a regulamentação pesada do setor, que desencorajou investimentos. Como resultado, o governo espera importar o recorde de 80 carregamentos de GNL no ano que vem, um aumento de 20% sobre 2011.

Mas analistas do setor dizem que os royalties são baixos em relação a outros países ricos em recursos e que a Argentina está oferecendo preços maiores pelo gás e óleo de xisto sob os termos dos programas Gas Plus e Oil Plus, o que cria condições potencialmente vantajosas ao boom do xisto.

Vaca Muerta, que fica a uma profundidade de 2.500 a 3.000 metros e foi ignorada durante décadas, pois os geólogos consideravam essa formação rochosa improdutiva, sai em vantagem na comparação com as maiores formações de xisto dos EUA, segundo García Blanco: ela é três vezes mais profunda que Eagle Ford, no Texas, e poderá produzir o dobro, acredita ele.

"Ela parece ter algumas similaridades com alguns esforços bastante produtivos nos EUA", concorda Robert Clarke, administrador do serviço de gases não convencionais da Wood Mackenzie, uma consultoria especializada em energia.

A YPF continua otimista de que pode haver mais formações ricas em xisto, como Vaca Muerta, na bacia de Neuquén. Em 2012, pretende investir US$ 40 milhões na perfuração de poços na formação de Molles, que fica abaixo de Vaca Muerta, a uma profundidade de 3.500 metros a 4.000 metros. "Nossas expectativas são muito altas", acrescenta García Blanco.

A YPF também está procurando mais ao sul, na formação rochosa D-129 na bacia de San Jorge, visando explorar o potencial de produção de xisto do local. No total, a companhia espera perfurar cerca de 40 poços de xisto no ano que vem, ao custo de US$ 11 milhões a US$ 12 milhões por poço.

"Até dois anos, dois anos e meio atrás, eu pensava que conseguiríamos manter a produção, mas não cresceríamos em petróleo. Em relação ao gás, haveria uma manutenção ou uma pequena queda", admite García Blanco. Agora, avaliamos que dentro de cinco anos, um terço da produção da YPF virá do xisto de Vaca Muerta e a companhia será autossuficiente no fornecimento às suas refinarias.