Título: Arrisque com moderação
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Eu & Investimentos, p. D1

Um certo otimismo, ainda que moderado, começa a tomar conta do mercado financeiro e as perspectivas são mais positivas para novembro. Ganha força entre os economistas a percepção de que a desaceleração americana acontecerá de maneira realmente suave e as conseqüências para o nível de atividade global serão menos nocivas do que se imaginava inicialmente. Isso não quer dizer, no entanto, que todas as preocupações foram banidas e que não haverá sobressaltos. Os especialistas ressaltam que é possível que haja volatilidade no curto prazo, mas o alarmismo que deu o tom ao mercado nos últimos meses diminuiu consideravelmente.

Para quem já tem investimentos em bolsa, depois de tanto vaivém, o conselho é esperar pacientemente, já que a maioria das projeções dos economistas aponta para um Índice Bovespa na casa dos 42.000 pontos no fim do ano, que implicaria alta de mais 7% das ações. No mês passado, os números mais favoráveis da atividade econômica americana deram impulso para a bolsa brasileira. O Ibovespa registrou alta de 7,72% em outubro e liderou o ranking dos investimentos. Outubro foi o segundo melhor mês da bolsa no ano, perdendo apenas para janeiro, quando o referencial subiu quase 15%. Esse desempenho foi decisivo para a bolsa passar a renda fixa e se tornar o melhor investimento do ano até agora, com 17,36%.

O destaque ficou por conta das ações da Vale do Rio Doce. Após sofrerem com a queda das commodities, os papéis se recuperaram depois que a empresa anunciou a compra da produtora de níquel Inco. As ações ordinárias (com direito a voto) da companhia subiram 16,87% em outubro. A valorização trouxe fortes ganhos para os fundos FGTS da Vale, que renderam 17,41% até o dia 26, mas nesse retorno ainda não incorpora a queda de 1,19% entre os dias 27 e 31. "A Vale é um dos papéis que tenho indicado para os meus clientes, mas sempre com visão de longo prazo", diz Rogerio Betti, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors.

A bolsa brasileira deve continuar se recuperando ao longo de novembro, avalia Marcelo Assalin, diretor de investimentos da SulAmérica Investimentos. "O fluxo de estrangeiros deve continuar positivo como ocorreu em outubro, mas para que isso aconteça, o clima deve continuar positivo."

Mesmo com o otimismo moderado dos economistas, os indicadores sobre o mercado imobiliários nos Estados Unidos continuarão a ser monitorados de perto, juntamente com o desempenho da inflação americana. A boa notícia é que a queda no preço do petróleo ajuda a manter os preços nos EUA mais sob controle. Contribui para as boas perspectivas, a manutenção do juro americano em 5,25% ao ano no mês passado, o que indicaria que o aperto monetário pode ter chegado ao fim.

Internamente, os olhares estarão voltados para a composição ministerial do novo governo Lula e para os rumos que serão tomados para a economia. A maioria dos analistas, no entanto, não acredita em grandes mudanças. "Com a eleição do presidente Lula, as especulações sobre problemas de governabilidade, aprovação de reformas, formação da equipe econômica e eventuais alterações na política econômica dominarão a cena", diz o administrador de investimentos Fabio Colombo.

O mundo hoje está muito menos alarmista que nos meses anteriores, diz Julio Martins, diretor de investimentos da Prosper Gestão. "Mesmo com um cenário ainda incerto, a percepção de que o mundo continuará crescendo é mais forte e a taxa de juros americana deve continuar estável ou até começar a cair em meados de 2007", diz.

O mercado externo, que vinha definindo o foco dos aplicadores por aqui, agora perde um pouco de espaço na decisão de investimento, diz Alexandre Póvoa, diretor da Modal Asset Management. "O mercado interno volta a ganhar mais peso nas decisões", avalia. O executivo vê as ações dos setores de energia elétrica, mineração e consumo com bons potenciais de alta até o fim do ano.

"As posições long/short são boa alternativa para ficar um pouco mais defensivo em bolsa", diz Vitor Hugo Roquete, diretor da Opus Investimentos. A estratégia consiste em, entre outros modelos, comprar uma ação que o gestor acredita que subirá e vender a que deve se desvalorizar, ganhando com a diferença (arbitragem). Houve uma apreciação rápida da bolsa em outubro, o que pode trazer uma pressão de baixa no início deste mês, apesar do maior otimismo com o mercado lá fora, diz Roquete.

Para o investidor pessoa física, no entanto, tentar achar o momento certo para investir ou resgatar em um par de ativos pode ser arriscado. Por isso, os especialistas indicam a aplicação em fundos multimercados, que podem comprar diversos ativos e contam com um gestor especializado. "As perspectivas estão mais positivas, mas, se houver algum estresse, o gestor verá na hora e tentará se defender", diz, Betti, da Beta.