Título: Previsões para crescimento brasileiro são otimistas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2012, Opinião, p. A8

Se a maioria das projeções feitas pelo mercado e pelo Banco Central para o comportamento da economia estiverem certas, o Brasil deverá crescer 3,5% em 2012. Esse cenário, animador em relação ao péssimo estado econômico dos países desenvolvidos, pode não se realizar porque as previsões sobre o Produto Interno Bruto tem sistematicamente errado o alvo, e não por pouco. Em 2011 partiu-se de uma estimativa de 4,5% de crescimento no início do ano para bem mais modestos 2,9% no seu fim.

O Banco Central, em seu relatório trimestral de inflação, prevê uma expansão de 3,5% que, pelo lado da demanda, dependerá basicamente do aumento do consumo do governo. Esse é único item, pelo critério, que avança em relação ao ano anterior, de 2% estimados para o último trimestre de 2011 para 3,2% no quarto trimestre do ano que vem - um salto considerável de 60%. Surpreendentemente, apesar do polpudo aumento do salário mínimo, de 14,2%, o consumo das famílias ficará praticamente estacionado em 4%, "a menor taxa anual desde 2004", segundo o relatório do BC. Para chegar ao número o BC supõe expansão moderada do crédito para pessoas físicas, que aumentou 17,2% em doze meses até novembro (último dado), e "relativa acomodação do mercado de trabalho". O setor externo reduzirá o resultado do PIB em 0,5% ponto percentual.

Pelo lado da oferta, os serviços e a indústria crescerão mais do que em 2011. A indústria dará um salto de 2% para 3,7%, puxada pela extração mineral e pela construção civil. Os serviços avançarão 3,3%, ante 2,9% no ano passado, basicamente graças ao avanço da intermediação financeira, transporte e armazenagem.

Nada disto está assegurado e o desempenho continuará dependendo em grande parte do desdobramento da grave crise da dívida na zona do euro e da batalha das autoridades chinesas para impedir um desaquecimento maior da segunda maior economia do mundo. No front doméstico, o jogo será em parte decidido pela dose de estímulos que serão dados para que o país cresça acima de 3% e do destino que se pretende dar à política fiscal. O governo tem dado sinais contraditórios a respeito.

Por um lado, a arrecadação de impostos poderá ser menor que a de 2011, ou não muito maior. Com a economia se desacelerando para a casa dos 3%, a arrecadação federal cresceu 11,7% em termos reais (deflacionada pelo IPCA) até novembro. Na estimativa do BC, os impostos sobre produtos declinarão de 4,7% em 2011 para 4,2%. Se as receitas federais dificilmente terão um ano brilhante, as despesas crescerão por força do aumento do salário mínimo, deixando pouco ou nenhum espaço para um crescimento significativo dos investimentos.

Se resolver investir mais, o governo provavelmente não conseguirá cumprir a meta de superávit primário de 3,1% do PIB. Parece claro que não há folga fiscal para grandes desonerações tributárias ou pacote de "bondades", como ocorreu após a crise de 2008. Os investimentos privados avançarão na mesma proporção de 2011, 5%, bem abaixo dos 21,3% de 2010. Com grandes incertezas no cenário externo, consumo doméstico em comedida expansão e razoável capacidade ociosa, é pouco provável que os investimentos avancem rapidamente.

Algum espaço nessa equação poderia ser aberto por uma queda mais agressiva dos juros. Ela, porém, só seria viável se a inflação se aproximar do centro da meta, mas as previsões consolidadas no boletim Focus indicam que em 2012 o IPCA ficará em 5,33%. Por esse motivo, os juros futuros ensaiaram discreta alta em 2013, como resultado de expectativas de que, com alguma reação da economia no segundo semestre, o BC interrompa o ciclo de baixa ou até volte a elevar os juros no início de 2013. Os juros poderão até cair para a casa dos 9,5%, mas não devem recuar mais que isso.

Dessa forma, os cenários oficial e privado parecem otimista demais. Mesmo que a economia brasileira cresça um pouco abaixo de 3,5%, porém, os estragos não serão grandes. Em nenhuma das previsões correntes o desemprego aumentará significativamente em 2012. Um risco presente é o de o governo errar a mão nos estímulos à economia, como ocorreu, com intenções eleitorais, em 2010. Nesse caso, o resultado será uma inflação mais alta, sem que haja um avanço digno de nota no PIB.