Título: Larry Ellison, o 'bad boy' da TI, volta a fazer barulho com a Oracle
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Empresas &, p. B3

Aos 62 anos de idade, Larry Ellison, o executivo-chefe e co-fundador da Oracle, continua o "bad boy" da indústria de tecnologia da informação. Na semana passada, ele apareceu no último dia do Oracle Open World - a conferência anual da companhia - para afrontar concorrentes e fazer desfeitas a um (ex-) amigo e protegido.

Em San Francisco, a cidade natal da Oracle, Ellison atacou os mainframes - os grandes computadores da IBM, ao mesmo tempo concorrente e aliada -, desancou o sistema operacional Unix e fez piada com a Microsoft. Por fim, anunciou um pacote de serviços que pode danificar a Red Hat, a maior empresa de Linux, na qual a própria Oracle investiu há sete anos. "Não acredito que a Red Hat esteja sendo assassinada. Estamos tentando disseminar os padrões abertos de software e o Linux é parte disso", afirmou.

Mas um dos principais adversários de Ellison - a alemã SAP - continua um osso duro de roer. A Oracle domina os bancos de dados, seu segmento original, mas há anos tenta compor uma oferta de produtos capaz de superar a SAP em seu próprio campo de atuação: os softwares de gestão empresarial, que automatizam os processos nas companhias.

Para reforçar o arsenal de produtos e abrir caminho para clientes estratégicos, ele enfrentou uma batalha de 18 meses para adquiriu a PeopleSoft, pela qual pagou US$ 10,6 bilhões, e despendeu mais US$ 5,85 bilhões com a Siebel, ambas dirigidas por ex-colaboradores - Craig Conway e Tom Siebel - que haviam se tornado desafetos. Ao todo, a febre de aquisições custou US$ 20 bilhões e incluiu negócios menores, aparentemente ainda não encerrados. Na semana passada, a MetaSolv foi comprada por US$ 219 milhões.

Com tantas compras, Ellison acabou despertando o receio de que a Oracle pudesse exterminar muitos produtos, deixando seus usuários na mão. No mercado, começaram a questionar se a companhia não sucumbiria à tarefa de juntar tantos produtos, marcas e administrações diferentes.

Mas na semana passada a Oracle deu um passo importante para desfazer esses temores: mostrou um número enorme de lançamentos, incluindo a versão de teste de seu novo banco de dados, sem cancelar nenhum produto. "Deixamos os clientes mais tranqüilos. Nos anos anteriores, alguns mostraram-se preocupados com o futuro dos produtos", diz Silvio Genesini, presidente da Oracle no Brasil. "Os usuários puderam ver a integração das aquisições que fizemos."

Aparentemente, a estratégia também vem mostrando resultados financeiros: no primeiro trimestre do ano fiscal 2007, encerrado em agosto, a receita da Oracle somou quase US$ 3,6 bilhões, com um aumento de 30% sobre o faturamento de 2005. O lucro líquido, de US$ 670 milhões, cresceu 29%.

Nenhum resultado, porém, deve ter agradado tanto a Ellison quanto o desempenho da Oracle nos aplicativos, a área de confronto direto com a SAP. As vendas de novas licenças no segmento cresceram 80% no trimestre, muito acima dos 15% das outras áreas de atuação: os bancos de dados e o middleware, um tipo de software que interliga produtos e linguagens de fornecedores diferentes.

No Oracle Open World, talvez embalado pelos resultados, Ellison era só risadas - a risada alta e engraçada que compõe sua imagem, junto com as roupas bem cortadas e as tiradas espirituosas, que incendiaram a platéia. Apesar disso, o executivo ainda não chegou aonde quer.

É o que mostram os dados. Segundo um relatório da empresa americana de pesquisa AMR Research, publicado há 20 dias, a Oracle dobrou sua participação no mercado de software de gestão entre 2004 e 2005. A SAP cresceu apenas dois pontos percentuais. Mesmo assim, o resultado final mostra uma grande vantagem para os alemães: enquanto a SAP avançou de 40% para 42% do bolo mundial, avaliado em US$ 25,4 bilhões, a Oracle saiu de um patamar de 10% para 20%. Ou seja, dobrou de tamanho, mas detém apenas metade da participação da rival.

Para 2006, a estimativa é de que os negócios de software de gestão atinjam US$ 29 bilhões no mundo. A SAP, prevê a AMR, continuará em primeiro, com 43%; a Oracle virá logo em seguida, com 23%. É uma regra conhecida: à medida que a participação aumenta, a velocidade de crescimento fica mais lenta. Na Oracle, essa taxa em 2006 deve ficar em 29%, ainda superior aos 17% da SAP, mas bem abaixo dos 110% que ela mesma alcançou entre 2004 e 2005.

Mesmo a passos mais lentos, a SAP não está parada. A receita da no terceiro trimestre do ano fiscal 2006, divulgado em meados do mês passado, mostrou um crescimento de 11%, para 2,245 bilhões de euros, com lucro de 388 milhões de euros. Os ganhos foram 16% superiores aos de 2005. Além disso, entre janeiro e setembro, o faturamento cresceu 20% na região das Américas, acima da Ásia-Pacífico (12%) e da Europa (8%), o que parece indicar que ela está crescendo no quintal da Oracle.

Ao que tudo indica, continuará a ser uma briga bem ao estilo de Ellison: um cruzamento entre disputa de mercado e vendeta particular. Explica-se. Com uma fortuna de US$ 16 bilhões, o que lhe confere o 15º lugar entre os mais ricos do mundo, Ellison coleciona adversários desde que fundou a Oracle, em 1977. A rixa com Bill Gates, da Microsoft, é bem conhecida, mas a SAP também está na lista.

Anos atrás, Hasso Plattner, o fundador da SAP, teria baixado as calças para Ellison durante uma corrida de barcos - uma paixão do empresário, que exibiu seu iate no Oracle Open World - porque este teria se recusado a ajudar um membro da tripulação da SAP. Pode ser lenda, mas o que importa é que a gana de Ellison em bater a alemã é bem real