Título: Começa a segunda fase do projeto brasileiro do genoma do eucalipto
Autor: Cibelle Bouças
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2004, Agronegócios, p. B10

A Embrapa iniciou neste mês a segunda etapa do projeto Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma de Eucalyptus (Genolyptus). Criado em 2001 em parceria com 13 empresas e sete universidades, o programa realizou em sua primeira fase a triagem de 150 mil seqüências do DNA do eucalipto, formando o maior banco mundial de dados genômicos sobre a planta, que tem sua origem na Austrália. Até junho de 2005, a Embrapa vai transferir às empresas consorciadas cópias do banco de dados genômicos e clones da coleção completa de moléculas dos genes seqüenciados. Participam do projeto Aracruz Celulose, Suzano Bahia Sul Celulose, Ferro Gusa Carajás, Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra), International Paper do Brasil, Jari Celulose, Klabin, Lwarcel Celulose e Papel, Rigesa Celulose, Papel e Embalagens, Votorantim Celulose e Papel (VCP), Zanini Florestal, Veracel Celulose, além do Instituto Raiz de Investigação Florestal, do grupo português Portucel . "O objetivo é que as empresas desenvolvam variedades melhoradas geneticamente com base nesses dados", disse o coordenador do projeto e pesquisador da Embrapa, Dario Grattapaglia. O projeto envolve investimentos de R$ 8,4 milhões, R$ 4,9 milhões dos quais aplicados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e outros R$ 3,5 milhões pelos grupos consorciados. Após a conclusão das duas etapas, o consórcio dará início à terceira fase do projeto, que deve durar até 2007 com o objetivo de traçar os mapas físico e genético do eucalipto. Na primeira fase, a Embrapa plantou 100 mil árvores, que agora serão avaliadas a partir do banco genômico. "O objetivo é traçar uma relação entre a planta no campo e os mapas físico e genético, de forma que seja possível detectar qual trecho do genoma exerce cada função". Para Grattapaglia, esse levantamento facilitará estudos sobre os dois principais itens de interesse comercial do eucalipto, que são a lignina e a celulose. A lignina é o componente que mantém as células unidas e dá rigidez estrutural aos troncos. Ela é extraída no processo de produção de papel para clarear a celulose, mas é o item de maior poder calórico e, por isso, bastante requerido na produção do carvão vegetal. A idéia é desenvolver, no futuro, variedades apropriadas para produção de celulose e outras para carvão vegetal. Grattapaglia afirma que as indústrias de celulose consomem em média 4 metros cúbicos de madeira para cada tonelada de celulose produzida, e esse volume pode cair 25% com o melhoramento genético. Pelas regras do consórcio, todos os participantes são titulares do banco de dados e as pesquisas feitas a partir dessas informações serão de propriedade exclusiva de cada empresa. Grattapaglia diz que VCP, Aracruz Celulose, Suzano, International Paper, Portucel e Embrapa têm planos para investir internamente em pesquisas de novas variedades. O projeto Genolyptus começou a ser desenvolvido em 2001 e a primeira fase foi concluída em junho deste ano, após a triagem de 150 mil seqüências de DNA, geradas a partir de quatro espécies - Eucalyptus grandis, E. globulus, E. pellita e E. urophylla. Segundo o pesquisador, há interesse de outros países em criar um consórcio internacional de pesquisas sobre eucalipto e coníferas (pynus), que são as principais variedades usadas para produção de celulose e carvão vegetal. Os dados seriam disponibilizados em um banco internacional de genes (Gene Bank). "No futuro, depois de explorar as informações já obtidas sobre o genoma, o Brasil pode disponibilizar informações, mas hoje não é interesse", disse. O Brasil é o sétimo maior produtor mundial de celulose e tem no eucalipto sua principal matéria-prima, conforme lembra a Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS). A produção da árvore (que também é usada na produção de carvão vegetal) ocupa 3 milhões de hectares e movimenta R$ 12 bilhões por ano. Rubens Garlipp, superintendente da SBS, estima que o investimento em renovação de área demande R$ 700 milhões por ano. Desde 2003, as indústrias de celulose e papel têm um plano de expansão com investimento total estimado em US$ 14,4 bilhões e a conclusão prevista para 2012.