Título: Estiagem no Sul derruba o lucro da Tractebel
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Empresas, p. B8
A franco-belga Tractebel, a maior geradora privada de energia no Brasil, sentiu nos números o efeito da estiagem que atingiu a região Sul do país. Com 13 usinas hidrelétricas e térmicas espalhadas pelos estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, além de Mato Grosso do Sul e Goiás, a companhia teve que comprar o insumo no mercado "spot" para atender os clientes e ainda sofreu os efeitos negativos da valorização do real no período.
O resultado foi que o lucro líquido no terceiro trimestre deste ano caiu 16,1% em relação ao desempenho registrado em igual período de 2005. Sendo assim, a empresa obteve um ganho de R$ 257,8 milhões entre julho e setembro de 2006, contra R$ 307,4 milhões no ano passado.
"Enfrentamos a maior seca histórica da região Sul do Brasil. E isso significou que as usinas hidrelétricas geraram uma quantidade menor de energia", afirma Manoel Zaroni Torres, presidente da Tractebel no país. Só para se ter uma idéia do cenário que o grupo teve pela frente, no terceiro trimestre de 2006 a geração de energia hidrelétrica foi 56% menor, enquanto que a térmica cresceu 36,5%.
Analistas consultados pelo Valor, contudo, afirmaram que dada as condições adversas, a Tractebel teve um bom desempenho. "Com este cenário, é correto dizer que a empresa foi bem. Mas também ficou claro que a companhia tem uma alavancagem importante no mercado 'spot', que precisa ser observada com cuidado", avalia Gustavo Gattass, analista de Energia do UBS.
Já o relatório da corretora Ativa considerou os resultados em linha com a expectativa do mercado. E destaca como fator negativo a queda no lucro líquido no trimestre, motivada pela estiagem no Sul. No entanto, a corretora assegura que a queda foi pontual e não compromete o resultado geral da Tractebel.
O presidente da companhia explica que o custo aumentou na geração porque a empresa teve que adquirir energia no mercado de curto prazo. "No terceiro trimestre de 2005, por exemplo, o preço médio do megawatt/hora (MWh) era de R$ 30. Agora, em igual período deste ano, o valor pago foi acima dos R$ 100 MWh", conta Torres
Mesmo diante desse obstáculo, a companhia, contudo, não deixou de melhorar alguns fundamentos. A receita líquida, a dívida líquida, o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida) aumentaram entre um período e outro.
Segundo Torres, a receita líquida subiu entre o terceiro trimestre deste ano e igual período de 2005, porque cresceu a venda em volume e o preço do MWh também subiu. O primeiro pulou de 3,194 MW médios para 3,794 MW médios. Já o segundo cresceu de R$ 85,7 MWh para R$ 93 MWh.
O resultado da combinação foi uma receita líquida de R$ 694,8 milhões entre julho e setembro deste ano, contra R$ 546,7 milhões. Já o lajida subiu de R$ 374,3 milhões para R$ 441,9 milhões entre os trimestres. Esse incremento ajudou a derrubar a relação entre dívida líquida e lajida, que diminuiu de 1,1 vez para 0,9.
Essa redução chega em um bom momento. Afinal, a empresa prepara-se para construir a hidrelétrica de São Salvador, em Tocantins, que consumirá US$ 400 milhões e terá capacidade de 241 MW.