Título: Espanha anuncia que não cumprirá meta de déficit
Autor: House,Jonathan
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2012, Internacional, p. A13

O novo governo conservador da Espanha afirmou que o país vai ficar bem atrás de sua meta para o déficit orçamentário, e anunciou cortes de gastos e aumentos de impostos em torno de € 15 bilhões (US$ 19,4 bilhões) para estancar as perdas.

Uma semana depois de o primeiro-ministro Mariano Rajoy tomar posse, seu governo afirmou que o déficit orçamentário da Espanha vai ser de cerca de 8% do Produto Interno Bruto em 2011 - bem acima da meta de 6% que o governo anterior, do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, prometeu à União Europeia e aos mercados financeiros.

Isso faz da Espanha o mais recente país da zona do euro a tropeçar em suas tentativas de reduzir um crescente buraco no orçamento. Portugal, Itália e Grécia já se viram forçados a adotar duras medidas de austeridade nos últimos meses.

Na sexta-feira, o governo propôs cerca de € 8,9 bilhões em cortes de gastos para 2012, que vão desde redução de emprego público até limites a subsídios para partidos políticos.

O governo também voltou atrás numa promessa de campanha de Rajoy e aprovou aumentos de impostos na casa dos € 6 bilhões. O ajuste total do orçamento representa cerca de 1,5% do PIB.

"Não queríamos altas de impostos", disse a porta-voz do governo, Soraya Sáenz de Santamaría, numa entrevista coletiva. "Eles se tornaram necessários devido ao tamanho do buraco [orçamentário] que encontramos."

As mais recentes medidas da Espanha provavelmente serão insuficientes para reduzir o déficit de 8% do PIB em 2011 para a meta de 4,4% em 2012, um hiato de cerca de € 36 bilhões. O governo vai apresentar em março um novo orçamento para 2012.

Sáenz de Santamaría deu a entender que novas medidas de austeridade estão a caminho. "O governo começou a adotar medidas; esse é o começo do começo", afirmou ela.

O ministro da Fazenda, Luis de Guindos, disse esperar que a ação rápida do governo em relação ao déficit e reformas econômicas vão reforçar a confiança, ajudando a alimentar crescimento e elevando a receita com impostos.

No início da semana passada, Guindos disse que a economia da Espanha provavelmente se contraiu no último trimestre de 2011 e iria encolher de novo no primeiro de 2012, depois de quase um ano de crescimento tímido.

Guindos disse que seu ministério estava preparando previsões econômicas para 2012. Ele disse que uma recente estimativa de 2% de contração para o ano era pessimista demais, e que a previsão de sua pasta será "bem longe disso".

Em termos de reformas, o governo espanhol já prometeu apresentar neste trimestre uma reforma do mercado trabalhista, cuja rigidez é apontada por economistas como responsável pela alta taxa de desemprego estrutural do país.

O governo também vai apresentar no primeiro semestre um plano para limpar o setor bancário que ainda está carregado dos dejetos do colapso de uma bolha imobiliária que durou uma década.

Políticos de oposição e líderes sindicais criticaram as novas medidas. O sindicato Comisiones Obreras disse que medidas de austeridade adotadas por governos anteriores pioraram e economia do país.

"Os resultados são claros: cinco milhões de desempregados, baixo crescimento, baixos salários, direitos sociais perdidos e uma economia que está à beira da recessão", afirmou o sindicato.

Sáenz de Santamaría, a porta-voz do governo, procurou dar um tom politicamente favorável às novas medidas, dizendo que elas não afetariam os segmentos mais vulneráveis da sociedade. "Não podemos pedir mais sacrifícios daqueles que não podem dar mais ainda", disse ela.