Título: Fundo Credit Yield pode ter extrapolado concentração
Autor: Angelo Pavini e Felipe Frisch
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2004, Eu & Investimentos, p. D1

A principal preocupação de gestores de fundos sobre o impacto no mercado do caso do Banco Santos é com relação ao fundo Credit Yield. O fundo, com patrimônio de R$ 607 milhões, tinha em outubro 90% da carteira, ou R$ 551 milhões, classificados como outras aplicações. O Valor conseguiu a discriminação desses investimentos no início de setembro e pediu para um gestor analisar os números. A primeira coisa que chamou a atenção do gestor foi uma operação de box de opções flexíveis de R$ 102,775 milhões de reais, ou 17,19% do total da carteira. O mais preocupante é que essa operação foi feita no mercado de balcão. Ou seja, não tem garantia da BM&F, como informa a própria bolsa. Se a contraparte não honrar a operação, o prejuízo será do fundo, ou seja, do cotista. O box é uma operação que busca travar a variação de preços de um determinado ativo no futuro e, por meio dela, uma empresa empresta dinheiro para outra. No caso, o Credit Yield emprestou dinheiro para uma empresa, que não aparece na descrição da aplicação. A suspeita do gestor é que o destino desse crédito tenha sido o próprio Banco Santos, ou uma empresa do grupo. "Seria uma forma de aumentar a aplicação em ativos do banco sem estourar o limite de 20% por emissor", afirma o gestor. O executivo lembra que alguns bancos fazem essa operação para captar sem precisar recolher compulsório ou pagar seguro depósito, como acontece com a captação via CDBs. Não se pode dizer com certeza que esse box tinha como devedor o Banco Santos. Só se sabe que o banco tinha em seu balanço de junho um volume expressivo de box, no valor de R$ 164 milhões. Outro fato que chama a atenção é a quantidade de Cédulas de Crédito Bancário (CCBs), que são empréstimos feitos pelo banco a empresas que emitem um certificado que é então vendido ao mercado. No caso do Banco Santos, os CCBs foram parar, em boa parte, na carteira do Credit Yield. O fato de ter CCBs em carteira não é um problema, afirma o gestor. O fundo, com objetivo de aplicar em papéis de emissão privada, estaria dentro de sua proposta. O problema é que a maioria dos créditos foi originada pelo próprio Santos. Olhando os principais devedores desses papéis, o Grupo Caoa tem sozinho quase 10% do patrimônio do fundo, com R$ 54 milhões, perto do máximo permitido por lei para papéis de uma empresa não financeira. Vale lembrar que várias empresas devedoras já se manifestaram contestando o valor da dívida junto ao Banco Santos, incluindo a Caoa. Outro ponto levantado pelo gestor é com relação ao grande número de operações de swap (troca de taxas) na BM&F feitas pelo fundo tendo como contraparte o próprio Banco Santos. Nelas, as taxas estavam em boa parte fora do mercado, variando, no caso das prefixadas, de 2% ao ano a 49% ao ano. Para o gestor, essa seria uma forma de "ajustar" o retorno do fundo, garantindo um ganho acima do CDI. Ou seja, o banco teria perdas em algumas operações para que o fundo mantivesse os ganhos estáveis. Confirma essa análise o desempenho do fundo, com rentabilidade diária, mensal e anual de 107% do CDI. Um desempenho muito estável para um fundo que tinha papéis tão diferentes. (A.P.)