Título: Inflação bate no bolso
Autor: Caprioli, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 22/09/2010, Economia, p. 14

IPCA e IGP-M mostram alta dos alimentos para o consumidor e mercado já fala em subida de juros

Após alguns meses de tranquilidade, o aumento de preços dos alimentos voltou a pesar no orçamento das famílias brasileiras, segundo apontou a prévia de setembro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa registrou alta de 0,31% nos primeiros quinze dias do mês e, para analistas do mercado, o repique acende a luz amarela da inflação e pode forçar o Banco Central a ajustar novamente a taxa de juros básicos para cima já no início do ano que vem.

Para a economista-chefe da corretora Icap Brasil, Inês Filipa, a volta ao ciclo de aperto monetário pode ser necessária para conter um avanço de expectativas do mercado em relação ao IPCA para o fim de 2011. Para este ano, não há muito mais o que ser feito, mesmo que o BC observe as estimativas do (boletim) Focus subirem, mas ele poderia fazer um ajuste no começo do ano. Se não em janeiro, talvez em fevereiro ou março, avaliou. A pesquisa semanal feita pela autoridade monetária mostra que as instituições financeiras continuam afastando suas projeções para o ano que vem do centro da meta (4,5% ao ano) e, pela segunda vez consecutiva, as elevaram para 4,95%.

O IPCA-15 de setembro quebra uma sequência de dois resultados negativos (-0,09% e -0,05%) e antecipa um avanço mais acentuado do indicador no mês fechado, que nos últimos três períodos ficou próximo de zero (0,0% em junho, 0,01% em julho e 0,04% em agosto). O grupo alimentação e bebidas, que até o mês passado registrava deflação de 0,68%, em setembro teve aumento de 0,30%. Entre os itens que compõem a cesta, as carnes foram as que mais contribuíram individualmente (0,07 ponto percentual de todo o índice), com um avanço de 3,4% no custo final. Na contramão, os produtos não alimentícios aceleraram a inflação de 0,14% para 0,31% no período, segundo o IBGE. No ano, a alta de preços apontada pelo IPCA soma 3,53%.

Apesar de expressivo, o salto no indicador cheio ainda é insuficiente para definir qual será a trajetória da inflação nos próximos meses. Não dá para saber se os alimentos apenas devolverão a queda ou se o acréscimo será acima do recuo de preços, mas eu nunca havia presenciado uma trajetória tão atípica para os alimentos, destacou Inês.

Escalada O Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), divulgado ontem, passou de 0,55% para 1,03% na segunda parcial do mês. As principais fontes de alta, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), também são os alimentos, seja no segmento industrial, captado pelo Índice de Preços no Atacado (IPA), ou no Índice de Preços ao Consumidor (IPC), ambos componentes do IGP-M.