Título: Rato ignora crítica à reforma no FMI
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Finanças, p. C8

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, expressou ontem indiferença diante das posições que Brasil, Argentina e Índia assumiram na semana passada, quando os três países se opuseram à maneira como ele está conduzindo seu ambicioso programa de reformas no FMI.

Na quinta-feira, representantes dos três países votaram contra uma resolução que beneficiou outros quatro sócios do Fundo, China, México, Coréia do Sul e Turquia, ampliando seu poder de influir nas decisões do FMI. A resolução foi apresentada por Rato como um passo inicial que abrirá caminho para mudanças mais profundas depois.

Num café da manhã com jornalistas ontem, Rato observou que a resolução que beneficiou esses quatro países foi aprovada com "mais de 90%" dos votos no conselho que representa os sócios do Fundo. "Não quer dizer que os outros 10% não sejam importantes", afirmou. "Mas 90% formam uma base de apoio ampla o suficiente para garantir legitimidade à decisão tomada."

Com a resolução aprovada na quinta-feira, China, México, Coréia e Turquia ganharam um pequeno aumento nas cotas que detêm na instituição, como um sinal de reconhecimento do descompasso existente entre sua relevância para a economia mundial e sua limitada capacidade de influir nas decisões do FMI. A decisão deve ser confirmada na reunião anual do Fundo, dias 19 e 20 deste mês, em Cingapura.

Numa segunda etapa, que poderá se estender por dois anos, os países que integram a organização vão discutir a criação de uma nova fórmula para calcular as cotas de cada sócio. Além de definir o peso de cada um nas votações, as cotas indicam o volume de recursos que eles podem tomar emprestado quando precisam de socorro do Fundo.

O Brasil votou contra a resolução de quinta-feira porque o governo avalia que a importância do país também deveria ter sido reconhecida com um aumento de cota. Além disso, o governo acredita que as novas fórmulas em discussão no FMI tendem a reforçar a hegemonia que os países mais ricos têm atualmente dentro da organização.

Rato defendeu o aumento das cotas da China e dos outros três beneficiados pela resolução da semana passada argumentando que eles são os mais prejudicados pelo sistema em vigor. Além disso, Rato acredita que a decisão criará condições políticas mais favoráveis à aprovação de uma nova fórmula e de outras mudanças nos próximos anos.

Ele disse que "não seria viável" promover a revisão das cotas apenas depois que se alcançasse um acordo sobre a nova fórmula, como a Índia desejava. "A fórmula vai exigir algum tempo", afirmou, classificando como prematuras as especulações que têm sido feitas sobre os efeitos que as opções em análise terão na divisão de poder no Fundo.

Uma das idéias em discussão é aumentar o peso do Produto Interno Bruto (PIB) dos países na fórmula, o que favoreceria os Estados Unidos e outras nações mais avançadas. Outra idéia é dar mais importância a outro critério, o grau de abertura comercial de cada país. Isso seria útil para vários países europeus que temem perder espaço na organização com as mudanças.

Rato também jogou água fria ontem nas esperanças de que o Fundo criará um novo mecanismo de prevenção de crises como o Brasil, a Argentina e outros países têm sugerido. O diretor do FMI disse que a discussão ainda está num estágio inicial e que dificilmente uma proposta poderá ser apresentada antes do próximo ano. "Estamos no momento das perguntas", afirmou.

O que está em debate é a criação de uma espécie de seguro para países que adotarem políticas econômicas prudentes, mas ainda se sentirem muito vulneráveis a crises financeiras súbitas e violentas como as que atingiram o Brasil e o Sudeste Asiático no fim da década de 90. "Ainda precisamos avaliar se os instrumentos disponíveis no Fundo são adequados para países nessa situação ou se precisamos criar alguma coisa nova", disse Rato.