Título: Região Sudeste puxou recuperação tímida da indústria no fim de 2011
Autor: Martins,Arícia
Fonte: Valor Econômico, 11/01/2012, Brasil, p. A2

Após um terceiro trimestre negativo, a indústria do Sudeste, que responde por 60% da produção nacional, cresceu na passagem de outubro para novembro, influenciada em grande parte pela indústria automobilística, extrativa, de bebidas e vestuário. Dado seu peso expressivo na indústria nacional, analistas consultados pelo Valor acreditam que o resultado positivo - ainda que tímido após meses consecutivos de quedas - pode sinalizar uma retomada gradual da produção em 2012, que será puxada pelo Sudeste.

Na comparação entre outubro e novembro, feitos os ajustes sazonais, a produção avançou 4,6% em Minas Gerais, 3,9% no Rio de Janeiro e 1,9% em São Paulo, segundo a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física Regional (PIM/PF Regional), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O destaque foi o Espírito Santo, Estado com forte presença do setor extrativo, e onde a produção subiu 4,7% no período.

Em São Paulo, segundo cálculos dessazonalizados pela Tendências Consultoria, a produção de veículos automotores cresceu 3,5% em novembro na comparação com outubro. Em vestuário, indústria de peso menor, o aumento foi de 13,5%. "No fim do ano, é comum as pessoas usarem o décimo terceiro para renovar o guarda-roupa, e isso puxa a produção", explica Gilberto Braga, professor do Ibmec.

Em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, a economista Camila Saito, da Tendências, destaca a indústria automobilística. A produção desse setor aumentou 13% e 6% na passagem de outubro para novembro, respectivamente nesses Estados, descontadas as sazonalidades, calcula ela. "Em Minas, a produção é muito dependente da Fiat. Já no Rio, a Peugeot-Citroën concentra o desempenho da indústria automobilística", observa Braga.

O desempenho no ano, com exceção do Espírito Santo, no entanto, é pífio na região, em linha com a produção do país: nos três Estados, a expansão foi inferior a 1% de janeiro a novembro, resultado fraco e espalhado na maioria dos setores. "Os dados de outubro e novembro não foram tão salutares para reverter a situação do terceiro trimestre e o quarto não será redentor", avalia Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Ele destaca que, na comparação anual (mês contra igual mês do ano anterior), a produção continua aprofundando sua queda nesses Estados e que a recuperação entre outubro e novembro foi apoiada em poucos setores, o que não o permite vislumbrar uma retomada consistente da produção do Sudeste em 2012. Souza projeta que a produção nacional deve avançar em torno de 2,5% neste ano, e que a do Sudeste deve um pouco menos.

Para Edgard Pereira, sócio da Edgard Pereira & Associados e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), os resultados de novembro do Sudeste indicam que o pior momento da indústria ficou para trás e que, pra frente, a retomada - ainda que lenta - do setor deve ser impulsionada pela região, que conta com o parque industrial mais diversificado do país.

Braga, do Ibmec, vê na diversidade da produção de São Paulo uma vantagem competitiva, já que, em sua visão, o Estado tem maior capacidade de reagir à demanda. Pelos seus cálculos, São Paulo vai continuar puxando a indústria do Sudeste, que deve crescer cerca de 3,5% neste ano.

Para o Nordeste, que continua apresentando taxas negativas, as expectativas são mais pessimistas. A indústria da região encolheu 2,9% entre outubro e novembro, na série dessazonalizada. "A recuperação no Sudeste será mais consistente e no Nordeste, mais pontual", prevê Pereira, da Unicamp, ao apontar a concentração da indústria nordestina em setores mais tradicionais e que sofrem a concorrência dos importados, tais como têxtil, vestuário e calçados.

Camila Saito, da Tendências, aposta em uma "leve retomada" da indústria nordestina neste ano, já que o impacto do aumento do mínimo deve ser maior na região e pode estimular o consumo. "Os indicadores de renda ainda estão favoráveis para o Nordeste", diz ela.

No Sul, a indústria do Paraná se descolou do restante da região ao crescer 5,4% em novembro frente a outubro, com forte contribuição de veículos automotores. No ano, o crescimento no Estado é de 5,6%.