Título: IBM adquire o controle da Global Value no Brasil
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Empresas, p. B4

Davilym Dourado / Valor Rogério Oliveira, presidente da IBM Brasil: US$ 100 milhões recebidos em 2004 já foram quase totalmente investidos "Eu não disse que comprava?", diz Rogério Oliveira, satisfeito, pouco depois de entrar na sala de reunião da presidência da IBM, no topo do quartel-general da companhia, em São Paulo. Para o executivo-chefe da multinacional no Brasil, é quase o cumprimento de um voto: dois anos e meio de depois de receber US$ 100 milhões da matriz para acelerar os negócios da subsidiária - o que incluía um sinal verde para adquirir empresas locais -, a IBM fechou um acordo pelo qual assume 100% da Global Value Soluções (GVS), uma empresa de serviços de tecnologia instalada em Minas Gerais.

A GVS já tinha o DNA da IBM. Criada em dezembro de 2001, era um empreendimento conjunto com o grupo Fiat, na qual cada sócio detinha 50% de participação. Esse tipo de associação não é incomum, diz Oliveira. "Às vezes, a empresa quer ser um cliente exclusivo. Nesses casos, criamos uma joint venture". Freqüentemente, porém, o arranjo é transitório. "No segundo momento, o cliente decide se vende sua parte ou fica com a empresa", afirma o executivo. No caso da Fiat, a decisão foi transferir o negócio. O valor da aquisição não é revelado.

Desde de março de 2004, quando a IBM liberou os recursos para a expansão e incluiu o Brasil em seu clube de países prioritários - ao lado da China, Índia e Rússia, o chamado BRIC -, Oliveira tem procurado oportunidades de aquisições. Até agora, porém, nenhum negócio havia saído. A chance de finalmente fazer a primeira compra ficou mais forte depois que a Fiat transferiu à IBM a participação que detinha na GVS na Itália, em junho do ano passado, abrindo espaço para a consolidação no Brasil.

Pela primeira vez em muito tempo, a IBM terá uma subsidiária direta com estrutura e marca próprias. A GVS, que era uma sociedade anônima, vai se transformar em uma companhia limitada, mas manterá sua estrutura autônoma. A última vez em que isso aconteceu foi na década passada: a Lotus, dona do software de colaboração Lotus Notes, atuou durante anos como uma empresa independente, mas acabou absorvida pela empresa-mãe.

No Brasil, a negociação com a GVS demorou seis meses para ser concluída. O mais difícil foi renegociar os contratos comerciais com cada uma das 17 empresas do grupo Fiat para as quais a companhia presta serviços, diz Octavius Augustus Azevedo. Filho de uma professora de história que batizou os filhos com nomes romanos - "sou o terceiro imperador na família", brinca - o executivo trabalha há 14 anos na IBM e conduziu as negociações desde o contato inicial, em dezembro do ano passado. Em março, assumiu o cargo de gerente geral da GVS, que continuará a comandar sob o novo desenho.

Como a GVS, outras empresas de serviços de tecnologia já estiveram ligadas a montadoras. A EDS ficou 11 anos sob controle da General Motors até recuperar sua independência na década de 90 e a Gedas foi vendida pela Volkswagen à alemã T-Systems em dezembro do ano passado.

Para a IBM, o negócio dá força à área de serviços e abre novas perspectivas em um segmento cobiçado: as pequenas e médias empresas. A companhia tornou-se conhecida como uma fornecedora de computadores - dos enormes mainframes até o computador pessoal, que foi concebido por seus pesquisadores. Mas, na década passada, a empresa começou a dar uma guinada na direção dos serviços, que culminou com a venda da sua divisão de PCs para a chinesa Lenovo, em maio de 2005.

No Brasil, a receita da IBM com serviços cresceu 48% no primeiro semestre e já representa quase metade do faturamento, diz Oliveira. "A área saltou de uma participação de 20% da receita há três anos para cerca de 45%.". No mundo, os serviços responderam por 52% do faturamento em 2005, o equivalente a R$ 47,4 bilhões.

Com a aquisição, a IBM também espera ampliar o contato com pequenas e médias empresas. Além das próprias companhias de porte médio do grupo Fiat, a GVS também trabalha para fornecedores com perfil semelhante, o que eleva para 25 o número de empresas atendidas, diz Azevedo. No ano passado, o faturamento da GVS, que emprega 400 funcionários entre pessoal direto e indireto, foi de R$ 63 milhões.

"O mercado de pequenas e médias empresas é muito importante (para a IBM) e um dos papéis que poderá ser atribuído à GVS é desenvolver este segmento no país", diz Oliveira. Por enquanto, ainda estão sendo definidas as estratégias em relação à empresa, mas a expansão geográfica para outros lugares além de Minas não está descartada.

Já sobre o orçamento de US$ 100 milhões, o executivo diz que os recursos foram quase totalmente investidos: "Só nos últimos meses, gastamos mais de US$ 20 milhões em infra-estrutura para apoiar nosso crescimento". Oliveira não fala muito sobre a possibilidade de receber recursos adicionais, mas deixa a questão no ar. "A corporação está aberta a discutir", afirma, novamente com um ar satisfeito.