Título: PR, o lar dos fichas sujas na Câmara
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 21/09/2010, Política, p. 5

Partido da República foi o que mais acolheu parlamentares com problemas na Justiça ou nos tribunais de contas dos estados

O PR pode ser considerado o refúgio preferido dos fichas sujas no Congresso Nacional. De acordo com estudo da organização não governamental (ONG) Transparência Brasil, dos 24 deputados federais implicados judicialmente que trocaram de legenda nos últimos quatro anos, metade teve como endereço o Partido da República. Somando senadores e deputados estaduais e distritais, o número sobe para 21. Depois do PR, a legenda que mais acolheu fichas sujas foi o PMDB, com 12 novos filiados, seguido pelo PSDB, com 10. De acordo com a ONG, o troca-troca partidário movimentou 234 parlamentares desde 2006 14% do total de eleitos nas urnas. Entre os infiéis, 93 apresentam ocorrência na Justiça ou em tribunais de contas.

Crescimento Partido criado da fusão do PL com o Prona em 2006, o PR cresceu exponencialmente com a filiação de novos quadros. Naquele ano, seus antecessores fizeram 31 parlamentares na Câmara dos Deputados. Na composição atual, no entanto, a sigla conta com 41 deputados e um senador. Segundo deputados do partido, a principal razão para que políticos migrassem para a legenda é o caráter governista e equilibrado da legenda. Muita gente tentou ir para a base do governo e o partido mais equilibrado para atrair esses parlamentares éramos nós. Não temos posições radicais e somos menores do que o PMDB, o que nos possibilita oferecer o controle de diretórios regionais aos interessados em ingressar em nossos quadros, afirma o deputado federal Luciano Castro (PR-RR).

Atualmente, o PR tem 18 deputados federais com problemas judiciais ou questionamentos em tribunais de contas. Fazem parte desse grupo os deputados Edmar Moreira (MG), Geraldo Pudim (RJ), Pastor Manoel Ferreira (RJ) e Homero Pereira (MT). O partido alega que os deputados enrolados somente foram aceitos porque ainda não foram condenados em definitivo. Alguns têm ainda processo a responder, mas condenações, não. Não podemos pré-julgar sem saber qual será o desfecho dessa implicação. E a Lei da Ficha Limpa retira o mandato de quem é condenado, explica Castro.

Bancada Para o diretor da Transparência Brasil, Cláudio Abramo, o levantamento revela que os governos, tanto o federal quanto estaduais e distrital, estão mais preocupados em agregar votos e encorpar a própria bancada do quem com as implicações judiciais dos novos integrantes. Podemos supor com esses dados que os governos, em geral, aceitam qualquer um como aliado. E os dados revelam quais partidos estão mais ou menos expostos a fazer acordos, analisa Abramo.

No Senado, os principais destinos de parlamentares com pendências judiciais foram o PTB e o PMDB, que conseguiram atrair dois senadores cada. Se na Câmara a taxa de infiéis foi de 11%, na Casa Alta o número sobe para 15%. Metade dos que trocaram de legenda desde 2006 seis senadores tem ocorrência judicial. Desses, Fernando Collor (AL) e Romeu Tuma (SP) migraram para o PTB e Leomar Quintanilha (TO) e Geraldo Mesquita (AC) filiaram-se ao PMDB. O PR recebeu César Borges (BA) e o PSC, Mão Santa (PI).