Título: Inco rompe com a Phelps e Vale fica só na disputa
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Empresas, p. B9

Em menos de um mês, a oferta agressiva da Vale do Rio Doce para compra da canadense Inco, de US$ 17,7 bilhões em dinheiro, derrubou dois concorrentes que já estavam no páreo bem antes da ofensiva da brasileira. Com isso, crescem as chances da Vele para vencer a bilionária disputa.

Nesse período, a Teck Cominco desistiu de levar à frente a operação por não conseguir levantar recursos para melhorar sua oferta e a americana Phelps Dodge viu ruir seu acordo de fusão com a canadense por não convencer os acionistas da Inco de que tinha a melhor proposta, que previa 24% em dinheiro e 76% em ações.

Agora, a Vale está soberana no negócio e a direção da Inco se mostra aberta para conversar, depois de reconhecer que sua oferta é melhor que a da Phelps Dodge, conforme sinalizaram os acionistas da canadense.

O diretor executivo da mineradora canadense, Scott Hand, disse em comunicado divulgado ontem que estava claro que "os acionistas da Inco não dariam suporte ao negócio com a Phelps Dodge" e, por isso, as empresas aceitaram cada uma seguir seu caminho. A reunião de acionistas da Inco para avaliar a proposta da Phelps, marcada para amanhã, foi cancelada.

A expectativa da cúpula da Vale, após o fim do acordo entre Inco e Phelps, é de que os acionistas da canadense possam começar a se mover em favor de sua oferta, iniciando o depósito das ações, conforme apurou o Valor. Por ser integralmente em dinheiro, a oferta da Vale não necessita de assembléias extraordinárias de acionistas para aprovar adesão a ela. Qualquer movimento nesse sentido será percebido pela Bolsa de Toronto.

Procurada, a direção da Vale não quis se pronunciar sobre o desfecho entre de Phelps e Inco e suas futuras negociações.

Removidos os adversários, a Vale só falta agora obter as aprovações da autoridades canadenses e da União Européia para estar totalmente liberada para fechar a negociação, caso sua proposta seja vencedora. A oferta da Vale expira em 28 de setembro. "Se até a véspera não aparecer um concorrente com peso superior ao da brasileira, como BHP Billiton, Rio Tinto ou Anglo American, a Inco será da Vale", aposta um analista que não quis se identificar.

De modo geral, os analistas vêem pouca possibilidade de emergir uma nova proposta pela Inco. As ações da empresa têm se mexido lentamente, num nível entre 85 e 86 dólares canadenses. Ontem, fecharam cotadas a 85,6 dólares canadenses, com queda de 0,30%. Os ADRs de ações PN da Vale em Nova York tiveram alta de 4,29%, para US$ 19,92. Já a PNA na Bovespa subiu 0,95%, para R$ 42,19.

O que o mercado busca saber agora é se a Vale vai ou não aumentar sua oferta, já que se tornou a única candidata a compra da produtora canadense de níquel. Na avaliação de Luiz Alberto Bins, analista de mineração da Geração Futura, a brasileira não precisa, a princípio, elevar sua oferta, como parecia ser uma possibilidade na disputa com a Phelps.

A Inco, porém, ressaltou em nota sobre o fim do acordo com a Phelps, que está aberta a novas propostas de aquisição e interessada em negociações que possam maximizar valor para seus acionistas. Também se manifestou aberta a entrar em negociações com a Vale sobre sua oferta, formalizada em 14 de agosto. Não necessariamente dessas conversas poderá sair algum acordo, afirmou a empresa.

Sem as amarras do acordo com a Phelps, o conselho da Inco vai procurar se reunir com a Vale - antes de recomendar a oferta da mineradora brasileira - , em busca de melhora da proposta da Vale para seus acionistas, prevêem os analistas. "Se a Inco conseguir, vai conseguir pouca melhora, pois a Vale não tem concorrente no negócio", destaca Bins.

Talvez, para garantir que sua oferta seja bem sucedida, a Vale pode até topar algum acréscimo no valor da oferta, algo da ordem de US$ 450 milhões (2,7% a mais), por exemplo, correspondente ao valor da multa que a Inco terá que pagar por ter rompido o contrato com a Phelps. Mas, esta é uma possibilidade difícil de se prever, mesmo sendo a Inco um ativo muito bom, capaz de motivar uma briga de seis meses por sua posse.