Título: Brasil vira base exportadora da Schneider
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Empresas, p. B10

Marisa Cauduro/Valor Jean-Pascal Tricoire, presidente mundial: "A fábrica de Guararema assume a produção de interruptores de fim de curso e de segurança da França e Espanha" A francesa Schneider Electric, uma das maiores distribuidoras de equipamentos elétricos do mundo, decidiu transformar o Brasil em uma de suas bases de exportação. Nem mesmo a apreciação do real frente ao dólar, que acumula uma valorização de 9,95% no ano até setembro, brecou a estratégia.

"O Brasil tem custos competitivos de produção", afirma Jean-Pascal Tricoire, presidente mundial da Schneider Electric, ao Valor. Tricoire, que visita o país pela primeira vez como principal executivo desde que assumiu o posto em maio deste ano, comanda um grupo secular, fundado em 1836 na cidade francesa de Creusot, e que fatura globalmente ? 11,7 bilhões, com mais de 200 fábricas e 92 mil funcionários.

No desenho explicitado pelo presidente mundial, ficou decidido que o Brasil receberá a linha de produção de interruptores de fim de curso e de segurança, usados em máquinas e processos industriais, das unidades da França e da Espanha. E o resultado dessa decisão será visto em breve, mais precisamente nos números do ano que vem: acréscimo de US$ 30 milhões ao faturamento da filial local que neste ano será de R$ 400 milhões.

Com mais US$ 30 milhões no bolso, as vendas para o exterior a partir das quatro fábricas que a Schneider possui no país vão crescer dos R$ 60 milhões previstos neste ano para cerca de R$ 124 milhões em 2007, a um câmbio de R$ 2,13. No ano passado, as exportações foram de R$ 25 milhões ou 7% de um faturamento de R$ 358,7 milhões no país.

A fábrica que assumirá a responsabilidade de exportar para todos os mercados a produção trazida da Espanha e da França é a operação de Guararema (SP). Além dessa unidade, a companhia possui fábricas em Sumaré (SP), São Paulo (SP) e Curitiba (PR).

"Todas as nossas unidades instaladas aqui têm alguma participação na exportação, mas a única global é a de Guararema, já que as outras têm vocação local", explica o presidente da Schneider Electric no Brasil, Bernard Mangin. No comando da filial brasileira desde 2004, Mangin explica que a exportação de um modo geral a partir do país ainda é bastante focada na Argentina, Chile, Venezuela, Colômbia e outros.

Para transformar Guararema em operação global de interruptores de fim de curso e de segurança, a Schneider está investindo R$ 7 milhões entre 2006 e 2007. Esse montante, no entanto, faz parte de um plano de aplicação de recursos de R$ 20 milhões, que mira as outras unidades do grupo no Brasil. E tanto no caso da operação global, como nas demais unidades, a meta fundamental dos recursos é atualizar o parque fabril.

Mas não é apenas investimento e a internalização de produtos que fez com que o faturamento do grupo, que está instalado no país desde 1947 e que atualmente emprega 1,02 mil pessoas, subisse ano após ano. As aquisições também ajudaram nessa estratégia de incremento da receita.

Apesar de não revelar o valor pago em cada um dos negócios, a empresa conta que fez três compras no país. Em 2000, adquiriu a Prime. Três anos depois, em 2003, arrematou a CDI Power, companhia focada em soluções para automação de sistemas elétricos nas áreas de geração, transmissão e distribuição. E, por fim, em 2006, o grupo francês comprou a Web Energy, que tem como negócio produzir soluções em gerenciamento de energia.

Tricoire, contudo, conta que o mercado brasileiro, que movimenta ao redor de R$ 2 bilhões por ano, está na mira do grupo em uma nova onda de compras. Mas, no momento, garante que nenhuma decisão foi tomada. "O certo é que o país passará por um processo de consolidação", diz o presidente mundial da francesa.