Título: Lula promete prioridade à reforma tributária
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Política, p. A9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu, se reeleito, dar total prioridade à reforma tributária, durante jantar na noite de segunda com empresários dos setores têxteis, financeiro, brinquedos, aviação civil e varejista, reunidos na casa do ministro Luiz Fernando Furlan. Segundo participantes do encontro, Lula teria afirmado que, ainda em janeiro, mesmo antes do novo Congresso tomar posse - o que deve acontecer em fevereiro - vai reunir seus ministros para discutir o tema. "Deixamos claro que não há como o país crescer com um nível de tributos beirando os 40%", afirmou o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Carlos de Oliveira.

Segundo Oliveira, Lula reconheceu que o prazo limite para aprovação da reforma tributária é 2007, já que em 2008 acontecem as eleições municipais e tudo torna-se mais difícil. Em nenhum momento o presidente responsabilizou o Congresso pela não aprovação da reforma tributária enviada ao Parlamento em 2003. "Na convenção nacional de supermercados, no ano passado, Lula havia dito que o governo federal tinha feito sua parte e que a responsabilidade da reforma tributária estava agora com os parlamentares. Foi, sem dúvida, uma mudança de opinião", reconheceu Oliveira.

O empresário acredita que o anúncio do crescimento de apenas 0,5% do PIB no segundo trimestre do ano acendeu uma luz amarela no governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda tentou ser otimista, projetando um crescimento do PIB de 4%. "Mas todos nós estimamos algo em torno de 3%, no máximo 3,5%. É muito pouco", afirmou.

Oliveira disse também que Mantega chegou a esboçar um discurso de redução dos gastos públicos. "Ele garantiu que, se não houver redução nos custos da máquina pública federal, não há como reduzir tributos, porque não haveria recursos para cobrir as despesas federais", adiantou.

Os empresários cobraram do governo uma outra reforma esquecida: a reforma trabalhista. "Nós mostramos que o nível tributário no Brasil torna muito caro o emprego, o que acaba estimulando a informalidade". Segundo Oliveira, Lula prometeu empenho na agenda reformista, mas tocou, de passagem, nas mudanças trabalhista e política.

Lula também ouviu queixas dos empresários, sobretudo os representantes dos setores de brinquedos e têxteis, que enfrentam forte concorrência chinesa. Estes criticaram ainda o câmbio apreciado, que estaria prejudicando as exportações. Lula, de acordo com Oliveira, descartou qualquer intervenção no câmbio. "Mesmo que eu decidisse - e não vou fazer isso - definir um câmbio fixo, sempre haveria discussão se o valor seria R$ 2,30, R$ 2,50 ou R$ 3", ponderou o presidente, segundo Oliveira.

O presidente da Abras declarou ainda que, antes dos debates específicos sobre problemas e rumos da economia, Furlan foi enfático ao descartar qualquer tipo de conotação eleitoral no encontro. "Todos vocês aqui são suficientes maduros para escolher os próprios candidatos a presidente", brincou o ministro.