Título: País defende a sua política nuclear
Autor: Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Internacional, p. A10
O ministro de Relações Exteriores da Índia, Anand Sharma, defendeu o direito de o Irã desenvolver sua tecnologia nuclear civil, mas disse que a situação de seu país e a do Irã são completamente diferentes e não podem ser comparadas. "Eles são signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, mas não vêm cumprindo suas obrigações", disse em entrevista a jornalistas brasileiros.
A Índia, que não é signatária do tratado (TNP), assinou em março deste ano um acordo nuclear civil com os Estados Unidos que lhe dá o direito de desenvolver seu programa nuclear. Embora não esteja em vigor, pois precisa ser aprovado pelo Congresso americano, o acordo gerou polêmica porque foi interpretado por muitos como um reconhecimento tácito da Índia como potência nuclear responsável, abrindo espaço para que outros países não-signatários do TNP peçam o mesmo tratamento. Nos EUA, a parceria foi vista como prejudicial aos esforços para conter a ambição nuclear de países como Irã, Coréia do Norte e Paquistão.
O ministro Sharma defende o acordo dizendo que o mundo precisa desenvolver tecnologias de energia limpa. "China e Índia estão crescendo muito. Por que se apoiar apenas em combustíveis fósseis?", questionou. Segundo ele, no acordo com os EUA, a Índia se compromete a atender as mesmas obrigações dos países que aderiram ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Cerca de 65% das instalações nucleares indianas (14, de um total de 22) serão classificadas como de fins pacíficos e estarão sujeitas a inspeções de técnicos da Agência Internacional de Energia Atômica. Pelo acordo, os Estados Unidos vão transferir tecnologia e a Índia comprará de empresas americanas os reatores nucleares.
"Nosso objetivo é manter a estratégia nuclear militar e melhorar a cooperação na área civil", diz Navtej Sarna, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores. Ele espera que alguns acordos específicos da parceria firmada com os EUA sejam aprovados pelo Congresso americano até o fim do ano.
Hoje, a Índia produz 4 mil megawatt (MW) de energia nuclear. O governo prevê que, em 2020, serão 25 mil MW, o que representaria 10% da geração energética do país. O objetivo final, porém, é que esse tipo de energia chegue a representar 25% da geração no futuro, segundo o ministro Anand Sharma.
Ele não acredita que a realização em Cuba da Cúpula de Países Não Alinhados, movimento do qual a Índia participa e é um dos grandes expoentes, possa causar qualquer tipo de tensão com os Estados Unidos ou ter impacto sobre a decisão do Congresso a respeito do acordo nuclear. A cúpula será realizada no fim da próxima semana, em Havana, e terá a participação de vários chefes de Estado e de governo, entre eles o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh.
"Somos uma nação soberana, com uma política externa independente", defendeu Sharma, ressaltando que a Índia tem um longo trabalho com países em desenvolvimento. "Se os problemas discutidos pelo grupo dos não-alinhados tivessem sido solucionados, não haveria problemas na Organização Mundial do Comércio, por exemplo."
Na Rodada Doha da OMC, Índia e Estados Unidos travaram uma queda-de-braço em questões como corte de subsídios e abertura do setor de serviços. Na agricultura, a Índia tem uma postura defensiva de seu mercado, em grande parte devido ao fato de a produção ser baseada em pequenas propriedades.