Título: Alckmin só admite coligação com o PSD em SP se Serra for o candidato
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Fonte: Valor Econômico, 16/01/2012, Política, p. A6

A menos que o tucano José Serra seja o candidato, está virtualmente descartada a hipótese de coligação entre o PSDB e o PSD na eleição para a Prefeitura de São Paulo. Além dos quatro pré-candidatos à indicação do PSDB, também o governador Geraldo Alckmin decidiu bater o pé em favor da candidatura própria. Alckmin, segundo a cúpula tucana, avalia que é melhor perder a eleição com um nome próprio do PSDB, a vencer com o PSD na cabeça de chapa.

O governador acredita que, a médio e longo prazo, essa é uma aliança que pode comprometer o domínio de mais de 16 anos do PSDB em São Paulo. Isso porque a proposta de acordo feita pelo prefeito Gilberto Kassab, criador e líder do PSD, prevê que o candidato da aliança, em 2012, seja o vice-governador Guilherme Afif Domingos, enquanto que ele, Kassab, o candidato a vice de Alckmin. Essa combinação poderia levar a que Afif e Kassab ocupassem simultaneamente a prefeitura e o governo do Estado no início de 2018.

Trata-se de uma combinação que já ocorreu em São Paulo, quando Cláudio Lembo (2006-2007) e o próprio Kassab (2006-2009) compartilharam o Estado e a prefeitura. A diferença é que, à época, os dois integravam o Democratas (DEM), e Serra deixara a prefeitura, num projeto comum com Gilberto Kassab (que era seu vice), para concorrer ao governo do Estado. Ainda há muito tempo até 2018, quando Alckmin, se for reeleito em 2014, deixará o governo Kassab a fim de disputar a Presidência ou o Senado. Nesse período, os dois poderiam até se recompor. Mas Alckmin prefere se precaver.

Alckmin tem pelo menos três bons motivos para insistir na candidatura de José Serra. O primeiro é que não será debitada na conta do governador uma eventual derrota de Serra, que entraria na disputa com o cacife de ex-governador do Estado, ex-prefeito e duas vezes candidato à Presidência da República. Em segundo, mesmo na eventualidade de uma derrota, Serra deve ajudar a eleger uma grande bancada de vereadores do PSDB, o que é do interesse de Alckmin não só em relação ao desenvolvimento de seu atual mandato, mas também em relação a 2014. Por último, Alckmin sai do alcance de acusações posteriores de não ter apoiado Serra.

São conhecidos os problemas entre Alckmin e Kassab: depois de perder a eleição presidencial de 2006, o tucano tentou voltar à política pela prefeitura paulistana, projeto que ficou comprometido com a decisão de Kassab de concorrer à reeleição. Depois, quando Kassab começou a articular a criação do PSD, Alckmin criou as dificuldades que pode para a adesão de prefeitos do interior de São Paulo à nova sigla. Mas na cúpula do PSDB afirma-se que a intransigência de Alckmin não se trata de um veto pessoal a Gilberto Kassab.

O problema é que os dois concorrem na mesma faixa do eleitorado e no mesmo cronograma das eleições em São Paulo, ao contrário do que ocorreu quando Serra e Kassab juntaram-se, em 2004, para disputar a vencer a eleição para prefeito. O passo seguinte de Serra era o governo do Estado. O de Kassab, assumir a prefeitura e depois tentar a reeleição, como de fato viria a acontecer na disputa de 2008.

Para Alckmin, no momento, o fundamental é que José Serra decida logo o que pretende do futuro próximo - as eleições municipais. O ex-governador insiste que não será candidato, mas em todas as eleições majoritárias que disputou ele sempre deixou a decisão para a última hora. Serra já deixou passar pelo menos uma oportunidade para confirmar que não quer ser candidato: mandar tirar seu nome da pesquisa interna feita pelo partido para avaliar os nomes dos potenciais candidatos. Escaldados, os tucanos querem uma resposta breve de Serra, até mesmo para articular outras possibilidades nas eleições.

Serra defende a aliança com Kassab e acha que essa deveria ser uma condição preliminar, antes de ser estabelecido o nome do candidato. Alckmin e seus aliados sabem, por outro lado, que Kassab pode ficar isolado na eleição, se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não der ao PSD tempo de televisão proporcional à bancada de deputados que o partido reuniu na Câmara.

Mesmo que o PSD venha a obter mais tempo, essa é uma decisão que provavelmente a Justiça Eleitoral só tomará em março, quando as negociações entre os partidos estarão avançadas. Alckmin já iniciou um flerte com o PSB local, que poderia ser a opção de aliança para dar mais tempo ao PSD, e com o PP de Paulo Maluf. O PR deve ficar com o candidato do PT, Fernando Haddad. E o DEM está a meio caminho entre o candidato de Alckmin e o do PMDB, Gabriel Chalita.

Chalita, nome que o vice-presidente da República, Michel Temer, tirou do colete para representar o PMDB, tem reconhecida ligação com Alckmin. No PSDB serrista há quem ache que o deputado pode ser para Serra, se ele for candidato, o que Kassab foi para Alckmin em 2008, quando Serra era o governador e apoiou oficiosamente a candidatura do prefeito. O fato é que o atual esquema de poder em São Paulo chega às eleições dividido, o que sempre é uma janela de oportunidade para um partido de oposição competitivo, como é o caso do PT na cidade de São Paulo.