Título: Obama quer reorganizar órgãos comerciais dos EUA
Autor: Meckler,Laura
Fonte: Valor Econômico, 16/01/2012, Opinião, p. A8

O presidente dos EUA, Barack Obama, propôs a consolidação de seis órgãos governamentais, inclusive alguns de comércio exterior, despertando o temor entre empresários americanos de que alguns dos órgãos que os defendem em Washington percam influência.

Como parte da proposta, que requer aprovação do Congresso, Obama uniria funções do Departamento (ministério) de Comércio ligadas ao setor empresarial em cinco agências menores: a Administração de Pequenas Empresas, a Secretaria de Representação Comercial dos EUA, o Banco de Exportações e Importações, a Corporação de Investimento Privado no Exterior e a Agência de Desenvolvimento e Comércio Externo.

Obama disse que a consolidação tornaria mais fácil para empresas atravessar a burocracia governamental, ao por sob o mesmo teto agências cujo objetivo principal é promover o setor privado americano, tanto no país quanto fora dele. Nesse caso, "seis não é melhor que um", disse Obama.

Líderes da oposição no Congresso disseram que a proposta tem potencial. "Eliminar programas duplicados e tornar o governo mais simples, enxuto e amigável às empresas é sempre uma ideia que vale a pena explorar", disse Brendan Buck, assessor do presidente da Câmara, John Boehner, que é o Partido Republicano, de oposição a Obama.

Mas outros congressistas e grandes entidades empresariais disseram temer, em particular com a fusão da representação comercial dos EUA num departamento maior, dizendo que o órgão, também conhecido pela sigla USTR, perderia a relevância e a liberdade de que desfruta como agência independente. A USTR negocia acordos comerciais e abre caminhos para exportações americanas.

"Pegar a USTR, um dos órgãos mais eficientes e um modelo de como o governo pode e deve trabalhar, e transformá-lo em apenas mais uma parte de uma burocracia gigantesca iria prejudicar as exportações americanas e limitar a criação de empregos" nos EUA, disseram, num comunicado conjunto, Dave Camp, deputado republicano presidente da comissão da Câmara responsável pela aprovação de impostos e acordo comerciais, e Max Baucus, senador do Partido Democrata - o mesmo de Obama - que preside a comissão de Finanças do Senado.

John Murphy, vice-presidente para assuntos internacionais da Câmara de Comércio dos EUA, ecoou esse sentimento, dizendo que a consolidação "faz sentido", mas questionando se a USTR deveria estar no pacote.

Num esforço para responder a essas questões, a Casa Branca informou que o representante comercial continuaria sendo um cargo com status de ministro. Membros do governo citaram um arranjo parecido, pelo qual o embaixador dos EUA na ONU responde tanto ao secretário de Estado (um cargo ministerial) quanto ao presidente. A Casa Branca argumenta que, ao se juntar a agências similares, a USTR terá acesso a mais recursos governamentais e poderá ser mais eficiente.

A mudança também dá a Obama espaço para argumentar que ele está lidando com uma importante preocupação dos eleitores que, no final deste ano, vão decidir se ele merece mais um mandato: o tamanho do governo federal. Ela reflete ainda a preocupação com criação de empregos, outro ponto delicado na campanha eleitoral.

A mudança resolve um problema burocrático que Obama citou há cerca de um ano, quando observou que o salmão era regulado por um órgão quando em água salgada e por outro quando em água doce. A reorganização poria as regras para o salmão todas no Departamento de Interior. O governo calcula que a reforma pode gerar economia de US$ 3 bilhões em dez anos. (Colaborou Emily Maltby.)