Título: Indústria tem alta modesta, mas generalizada
Autor: Lamucci, Sérgio e Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Brasil, p. A3

A indústria cresceu 0,6% em julho na comparação com o mês de junho, já descontados os efeitos sazonais. O dado foi divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "É uma taxa discreta. O resultado é positivo pelo fato de ter sido espalhado, mas é modesto na sua magnitude", disse Sílvio Sales, coordenador da área de indústria do IBGE. Esse desempenho foi apoiado pela demanda interna, já que o câmbio ajudou a reduzir o ritmo das exportações e estimulou o aumento das importações, informou Sales.

Na comparação com julho de 2005, a produção industrial cresceu 3,2% e, no ano, acumula alta de 2,7%. Na análise por categoria de uso, apenas o segmento de bens de consumo registrou queda em julho, de 0,2% em relação a junho. No mesmo período, bens de capital e bens intermediários aumentaram a produção em 1%. Na alta de 3,2% em relação a julho de 2005, 20 dos 27 ramos pesquisados pelo IBGE aumentaram a produção.

A análise de Sales - de alta discreta - é compartilhada por outros economistas, que indagam por que a indústria não tem reagido aos estímulos positivos da queda dos juros e aumento da renda. O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, acabou de rever para baixo sua projeção para o PIB de 2006, de 3,8% para 3,3%. "Mesmo considerando que não haverá tropeços no terceiro e quarto trimestres, como ocorreu no segundo, acreditamos que a economia nacional não terá tempo hábil para recuperar o que foi perdido", destacou Agostini.

Ele classificou o resultado da produção da indústria de julho como fraco e o avaliou como uma prova de que alguns indicadores do nível de atividade já revelam baixo dinamismo no terceiro trimestre. Os economistas da MB Associados também consideraram pouco estimulante o resultado da indústria de julho. Para eles, não há perspectiva de mudança desse cenário de crescimento moderado nos próximos meses porque a probabilidade de aumentos maiores na renda é cada vez menor pela perda de dinamismo da classe média. Além disso, o câmbio deve continuar apreciado.

Mesmo generalizado, o crescimento da indústria, em julho, foi díspare entre os setores. A produção da metalurgia básica subiu 4,2% em relação a junho devido à volta do alto-forno da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a indústria de petróleo produziu 5,2% mais. Outros produtos ligados à demanda interna, contudo, cresceram muito pouco ou declinaram sua produção, como alimentos (0,10%), indústria farmacêutica (menos 5%) e bens duráveis (menos 0,2%) - sempre na comparação com junho, já descontados os efeitos sazonais.

Para a MB Associados, ao entrar no terceiro trimestre a indústria brasileira confirma a perda de ritmo, sem grandes perspectivas de mudança. A consultoria continua projetando uma taxa de 3,8% para o crescimento da indústria em geral e 3% para o PIB do ano. A área de análise do banco Itaú trabalha com aumento do PIB no terceiro trimestre de 1% em relação ao segundo trimestre e 3% no acumulado do ano.

A LCA Consultores injeta um pouco mais de otimismo nesse cenário. Apesar de considerar fraca a produção industrial de julho, o economista Bráulio Borges vislumbra uma aceleração da atividade do setor no terceiro trimestre. Os indicadores antecedentes de agosto, diz ele, se encontram em um nível bastante acima do nível médio do segundo trimestre, embora alguns apontem pequena queda em agosto. No entender de Borges, o PIB do terceiro trimestre terá condições de crescer 1,5% em relação ao segundo trimestre. Para o quarto trimestre, a LCA projeta 1,2%. Esses números poderão sustentar um PIB anual de 3,5%.

Na análise de Borges, o que vai dar um gás para o PIB no terceiro trimestre será o investimento e o setor externo, que está recuperando seu fôlego. Em julho, a produção dos setores com alta intensidade exportadora subiu 6,8% em relação a julho do ano passado. No ano, esses segmentos acumulam uma produção 3% superior a dos primeiros sete meses de 2005. (* Do Valor Online)