Título: CNI detecta temor com crescimento de importações
Autor: Lamucci, Sérgio e Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Brasil, p. A3

Os economistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontaram os efeitos da valorização da moeda brasileira e as altas despesas sociais do governo como as principais preocupações do setor para os próximos meses. Além dos prejuízos que a atual taxa de câmbio vem provocando no faturamento das exportadoras, há agora o temor com a crescente presença das importações, principalmente da China, no mercado brasileiro. A novidade revelada pela Sondagem da CNI de julho é que alguns segmentos de máquinas e equipamentos e partes/peças já integram a lista de "vítimas" dos produtos estrangeiros.

Além da perda de dinamismo das exportações, o cenário fiscal preocupa. Para a CNI, os benefícios sociais pagos pelo governo federal contribuem para a alta do consumo, mas o ritmo de crescimento dessas despesas é insustentável e pode frear a queda dos juros.

Os economistas Flávio Castelo Branco e Paulo Mol revelaram que a sondagem mostra empresários menos otimistas sobre o emprego no segundo semestre, enquanto os indicadores industriais referentes a julho mostram uma trajetória de crescimento moderado.

A perspectiva para o Natal é de alta em relação a 2005 porque há mais renda e consumo. Mas os estoques no segundo trimestre deste ano estavam mais altos que o desejado. Em julho, as vendas reais subiram 2,69% em relação a julho de 2005 e 0,94% na comparação com junho, na série com ajuste sazonal. Mas de janeiro a julho, a variação desse indicador foi negativa em 0,68%.

O pessoal empregado cresceu 2,01% em relação a julho de 2005 e aumentou 1,52% no ano. As horas trabalhadas foram 1,94% maiores que julho de 2005 e aumentaram 0,84% no período janeiro-julho, enquanto o uso da capacidade instalada ficou estável em 81,6%.

A taxa de câmbio valorizou-se 14% entre janeiro e julho e, para a CNI, esse foi o principal motivo do recuo de 0,68% nas vendas em relação a igual período de 2005. Apenas em julho, o real se valorizou 2,6%. Isso significa desvantagem (custos e preços maiores) para cerca de 25% das indústrias. Essa é a parcela do setor que realiza exportações. As indústrias de madeira/móveis, calçados e têxtil/vestuário já vinham sofrendo bastante com o câmbio e com as importações da China. Agora, o problema afeta bens de capital e peças.

Na perspectiva dos industriais, o cenário fiscal é preocupante. O consumo vem sendo impulsionado pela queda dos juros, a inflação sob controle e crescimento dos benefícios sociais do governo. O bom desempenho do emprego industrial, em ascensão desde 2003, pode não se repetir neste segundo semestre. Para a CNI, o emprego cresce de forma heterogênea.