Título: Investimento reage forte em julho
Autor: Lamucci, Sérgio e Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Brasil, p. A3

O resultado da produção industrial de julho mostrou uma recuperação bastante expressiva do investimento. Depois do mau desempenho no segundo trimestre, a fabricação de bens de capital e de insumos para a construção civil cresceu com força, confirmando a retomada da ampliação da capacidade produtiva já apontada pelo avanço das importações.

Com os dados divulgados ontem pelo IBGE, os analistas projetam uma expansão razoável neste ano para a formação bruta de capital fixo (FBCF), que mede investimentos na construção civil e em máquinas e equipamentos. A expectativa é de que o indicador cresça até 6,5% em 2006. No segundo trimestre, houve queda de 2,2% em relação ao primeiro trimestre.

Para o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores, os números de julho mostram um quadro auspicioso para a FBCF. A produção de bens de capital cresceu 8,4% em relação a julho de 2005 e 1% na comparação com junho deste ano, na série com ajuste sazonal. Como as quantidades importadas desses bens cresceram 34% em relação a julho de 2005, houve um forte aumento do consumo aparente de máquinas e equipamentos no período, que Borges estima em 13,7%. O consumo aparente inclui a produção e a importação de bens de capital e exclui as exportações.

A produção de insumos para a construção cresceu 7,5% em relação a julho de 2005. "Esse desempenho evidencia o forte ritmo setorial implementado tanto pela robusta expansão do financiamento habitacional como pelo avanço nas vendas do varejo de material de construção", avalia Amaryllis Romano, analista da Tendências Consultoria, para quem o resultado confirma a expectativa de uma alta de 5,1% no segmento em 2006. Em janeiro, o governo reduziu o imposto de alguns materiais de construção civil.

A FBCF cresceu nada menos que 9,8% em julho, na comparação com igual mês de 2005, estima Borges, muito acima dos 2,5% registrados em junho. "Os números indicam que este indicador de investimento avançou 1,4% em relação ao nível do segundo trimestre. Isso significa que, mesmo se o investimento não crescer nada em agosto e setembro, haverá uma expansão no terceiro trimestre da FBCF de 1,4% em comparação como trimestre anterior, afirma Borges. Otimista, ele estima um crescimento de 6,5% para o indicador neste ano, o que poderia levar a taxa de investimento dos 19,6% do PIB de 2005 para 21% neste ano.

Para Roberto Padovani, da Tendências, o cenário para o investimento no segundo semestre é positivo. Ele ressalta que o risco-país está baixo e estável, os juros estão em queda e o cenário político não causa turbulência. Com isso, há maior previsibilidade na economia, o que favorece decisões para ampliar a capacidade produtiva. Padovani espera expansão de 5,9% do investimento neste ano.

O economista Aurélio Bicalho, do Itaú, também vê sinais de retomada do investimento no terceiro trimestre. Ele destaca a queda dos juros reais, o risco-país em patamar historicamente baixo e a melhora nas expectativas dos empresários quanto aos negócios nos próximos seis meses, segundo a sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele prevê crescimento da FBCF de 5% este ano.

O economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, também gostou dos números de julho, mas os avalia com cautela. Ele lembra que o crescimento das importações em julho foi em parte inflado pelo fato de que a greve da Receita Federal jogou para baixo o resultado da balança comercial em maio e junho. Em agosto, as compras externas de bens de capital refluíram. Ele estima, com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento - que mostram valor e não volume -, que houve queda de 12% em relação a julho.

Montero pondera que o resultado da construção está em alguma medida ligado a obras relacionadas às eleições, o que indicaria um ritmo de expansão que talvez não se repita nos próximos meses