Título: Ritmo de desmatamento na Amazônia deve recuar 11% este ano
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Brasil, p. A4

A taxa de desmatamento na Amazônia deverá continuar em queda neste ano, segundo estimativas preliminares do Ministério do Meio Ambiente. Levantamentos por imagens de satélite projetam uma redução de 11% nos índices. Se a tendência registrada agora for mantida até dezembro, a devastação terá atingido 16,7 mil quilômetros quadrados em 2006. Na previsão mais pessimista do governo, o desmatamento alcançará 18 mil quilômetros quadrados da Amazônia.

Para a ministra Marina Silva, que anunciou ontem as estimativas, os dados comprovam uma tendência de queda "que não é episódica". No ano passado, a devastação da floresta amazônica já havia caído 31% - para 18.793 quilômetros quadrados. O desmatamento ainda ocorre em ritmo acelerado, mas a situação já foi pior. Em 2002, cresceu 27%; em 2004, foram destruídos 27 mil quilômetros quadrados de floresta. "O resultado demonstra uma situação de governança, de ação conjunta de comando e controle, envolvendo vários órgãos de governo", disse Marina.

A área total devastada na Amazônia já chega a quase 700 mil quilômetros quadrados, o equivalente a 17,5% da região. Segundo a ministra, o empenho do governo está focado no combate ao desmatamento ilegal. Ela lembrou que os fazendeiros têm o direito de cortar até 20% das árvores em suas terras, mas boa parte do deflorestamento constatado atualmente é irregular. "Nós temos que combater o desmatamento ilegal", afirmou Marina.

O índice divulgado agora foi apurado por um sistema de detecção em tempo real, que usa imagens mais simples. Esses indicadores preliminares são auferidos com maior precisão pelo sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), que utiliza os satélites LandSat e Cbers. A estimativa é feita com base em números de agosto de um ano e do ano seguinte.

Os dados consolidados pelo Prodes apontam que o desmatamento ocorrido em 2005 foi menor do que o verificado preliminarmente. A projeção de 18.900 quilômetros quadrados de florestas destruídas caiu para 18.790 quilômetros quadrados.

Mas o secretário de biodiversidade e florestas do ministério, João Paulo Capobianco, lembra que o sistema de detecção em tempo real ajuda o governo a agir rapidamente e aprimora a proteção da Amazônia. Para ele, o dado a ressaltar é que, por dois anos consecutivos, a taxa de desmatamento ficará abaixo de 20 mil quilômetros quadrados. "Estamos voltando ao patamar da segunda metade da década de 1990", observou Capobianco.

Ontem mesmo, em conjunto com o Ibama, a Polícia Federal deflagrou uma operação para desarticular uma quadrilha que atuava há pelo menos cinco anos em 12 municípios de Mato Grosso e de Rondônia. Até o fim da manhã, 34 pessoas haviam sido presas na operação. Marina Silva elogiou o trabalho do serviço de inteligência da PF, mas cobrou participação mais efetiva dos governos estaduais nas ações de fiscalização. "O sistema não pode continuar sob responsabilidade exclusiva da União", disse.

Em 2005, Maranhão e Tocantins registraram aumento no ritmo de devastação ambiental. Em 2006, as estimativas indicam expansão do desmatamento no Pará, Amazonas, Acre, Maranhão, Tocantins e Roraima. Em Mato Grosso, uma das áreas mais devastadas recentemente, houve queda. Os índices preliminares em território paraense cresceram 50% neste ano.

O município de São Félix do Xingu (PA) apresentou a maior taxa de destruição de florestas: 32%. Capobianco admitiu que a situação do Estado preocupa e afirmou que uma das maiores dificuldades para conter a devastação na região é a constante mudança de frentes de devastação.