Título: Mandelson vem ao Rio à espera de sinal positivo dos EUA
Autor: Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Brasil, p. A4

O comissário europeu de Comércio, Peter Mandelson, vai à reunião ministerial do G-20, esta semana no Rio, com a expectativa de ouvir o que a representante de Comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab, tem a dizer para dar algum fôlego à Rodada Doha.

Além dos encontros na capital carioca, Mandelson já programou uma viagem a Washington para os dias 24 e 25 deste mês, para continuar as discussões com Schwab e com líderes do Congresso sobre as condições para a retomada da negociação global para liberalizar o comércio.

Segundo assessores de Mandelson, ele não espera progressos até a eleição legislativa nos EUA, em novembro. Mas acha que cabe basicamente a Washington dar indicações de que vai aceitar cortes substanciais nos subsídios agrícolas, para dar novo ânimo à rodada.

Em Genebra, negociadores consideram que as discussões podem pavimentar o terreno para a administração Bush pedir mais tarde a prorrogação do TPA, a lei que autoriza o Executivo a negociar acordos comerciais sem que o Congresso possa emenda-los.

Ontem, no Parlamento Europeu, Mandelson voltou a reclamar da proposta dos EUA de poder manter US$ 22,7 bilhões de subsídios, mais do que gasta hoje. Sem uma mudança na posição americana, ele acha que Brasil, Índia e outros emergentes não estarão prontos a oferecer maior acesso a seus mercados para produtos industriais e serviços estrangeiros.

Por sua vez, disse que os subsídios europeus baixariam para US$ 20 bilhões por ano - comparados aos quase US$ 40 bilhões atualmente. Isso provocaria uma "dramática retirada" de produtores europeus de produtos chaves no mercado global, como frango e leite, deixando espaço para exportadores competitivos como Brasil, Austrália e mesmo os EUA.

Ele acha que as posições na agricultura "não são irreconciliáveis" e insiste que de seu lado a UE já mostrou que aceita "os mais profundos cortes de tarifas agrícolas até agora aceitos numa negociação multilateral". Por outro lado, Mandelson pode até discutir com ministros do Mercosul sobre as negociações do bloco com a UE, mas muito informalmente, para "não dar o sinal errado" no Rio, onde espera posições pela retomada das discussões na Organização Mundial do Comércio (OMC). A prioridade é a Rodada Doha, insistiu ontem Mandelson no Parlamento Europeu.