Título: Exportador busca hedge contra a queda do dólar
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2004, Finanças, p. C1
A queda do dólar começa a criar uma nova demanda por proteção financeira cambial: o hedge do exportador. "É o hedge de ativo, também chamado de hedge às avessas", define Jorge Sant'Anna, diretor técnico da Cetip (Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos). Empresas que vão receber dólar no futuro preferem travar uma cotação agora para acabar com as incertezas e evitar uma maior desvalorização. "Há exportadores que estão vendendo hoje o dólar a termo e garantindo uma cotação pré-determinada no ano que vem", conta Alberto Gaidys, diretor do BankBoston. Ele diz que o movimento ainda é inicial, mas cresce a cada dia. "É muito caro carregar dólar hoje." Ao fazer o hedge, o exportador ganha a diferença entre os juros em reais e o cupom cambial (os juros para os investimentos em dólar no mercado interno), de mais de 15% ao ano. O Itaú também notou um aumento do hedge do exportador em dezembro. "Há muita empresa que ao fechar seu balanço agora já busca se programar para o ano que vem. O exportador tem feito operações com derivativos para garantir suas receitas", diz Guilherme Falcão, superintendente de operações da mesa de clientes do Itaú. "Os exportadores estão cada vez mais preocupados com a queda livre da moeda e tentam se proteger."
O Itaú percebeu também que os importadores estão desmontando antecipadamente seu "hedge" de passivo com a queda do dólar. José Berenguer, vice-presidente executivo do Real ABN AMRO, diz que, de uma forma geral, o hedge de passivo não tem atraído interesse, pois está muito caro: o custo de tomar dívida em dólar é maior do que o cupom cambial, os juros para investimentos em dólar no mercado interno. As empresas acabam optando por quitar dívidas em dólar e tomar dívida em real, reduzindo a demanda por hedge de passivo. "Já os exportadores estão mantendo suas operações com derivativos", diz Berenguer. Os números da Cetip, que melhor refletem o mercado corporativo, mostram uma alta nos contratos de dólar a termo, o mais tradicionalmente usado pelo exportador para se proteger, segundo Sant'Anna. Se convertidos para dólar, o valor do ativo-base nos contratos (notional) em estoque passou de US$ 3 bilhões em janeiro para o recorde de US$ 4,7 bilhões no final de novembro, considerando-se as operações entre clientes e o mercado. O aumento é de 60%. No dia 17 de dezembro, caíram ligeiramente para US$ 4,5 bilhões. De janeiro a novembro, o estoque de hedge cambial total na Cetip - considerando-se também os "swaps" (troca) de dólar por juros prefixados ou de dólar por juros dos Depósitos Interfinanceiros (DI), nas operações entre clientes e mercado - caiu de US$ 20,24 bilhões para US$ 17,7 bilhões, um recuo de 12,5%. Na sexta-feira, estava em US$ 17,1 bilhões. Já o total de hedge em estoque na Cetip, se forem incluídas as operações entre participantes do mercado financeiro, caiu de US$ 33,45 bilhões em janeiro para US$ 27,38 bilhões no final de novembro, indo para US$ 27,135 bilhões na sexta-feira passada. O movimento típico da maior parte dos exportadores, no entanto, continua a ser o de segurar o dólar, tradicionalmente considerado uma moeda forte e valiosa no país, à espera de uma melhor cotação. Em momentos de desvalorização o exportador atrasa o fechamento de câmbio o quanto pode e só vende seus dólares quando a cotação sobe, mesmo que marginalmente, ou quando não tem mais alternativa. "As empresas brasileiras, que detinham grandes posições vendidas em dólar, hoje têm cada vez mais posições compradas", avalia Gaidys. Ele lembra que os derivativos tomam menos limites de crédito das empresas junto aos bancos do que os Adiamentos de Contrato de Câmbio (ACCs) ou Adiamento sobre Cambiais Entregues (ACEs) e não comprometem performance de exportação. "Uma alternativa para o exportador garantir uma cotação mínima para o dólar com perdas limitadas no hedge se o dólar subir é comprar uma opção de venda", diz Gaidys. O exportador compra o direito de vender o dólar a R$ 2,90 daqui a um ano para o banco, por exemplo, e paga um prêmio. Se o dólar for a R$ 2,70, ele exerce o direito e ganha a diferença. Se o dólar ficar acima de R$ 2,90, o exportador não exerce a opção e perde só prêmio. Segundo Gaidys, há também demanda por hedge cambial de balanço de grandes empresas controladas por estrangeiros, que são operações estruturadas de longo prazo, de até 10 anos.