Título: Queimadas matam e tiram qualidade de vida no DF
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Fonte: Correio Braziliense, 21/09/2010, Opinião, p. 18

O incêndio na Reserva Ecológica do Parque Nacional de Brasília é a crônica da morte anunciada. Explica-se a referência ao livro de Gabriel García Marquez. Na obra do escritor colombiano, as primeiras linhas do texto antecipam os acontecimentos. As demais confirmam-nos acrescentando os pormenores necessários à compreensão da trama. O enredo se assemelha à tragédia do espaço urbano da capital do país. Ano após ano, as chamas se alastram pela reserva sem que se tomem iniciativas eficazes para prevenir a catástrofe.

Embora haja quem afirme que o fogo pode se originar de combustão espontânea, o fato é que boa parte dos incêndios tem no descuido a principal causa. Pessoas jogam pontas de cigarro à beira da estrada por desinformação ou má-fé. Com a vegetação seca, o resultado é um só. Nasce o foco que, sem controle, se propaga rapidamente e destrói tudo o que encontra no caminho.

A ação do Corpo de Bombeiros é insuficiente para estancar a queimada. Consequência: mata-se o cerrado e, com ele, dizimam-se animais e plantas. Entre eles, espécies em extinção. Não só. Ao longo do horizonte, forma-se nuvem de partículas em suspensão que comprometem a saúde de adultos e crianças. Doenças respiratórias batem recordes no período.

Ora, se a seca é inevitável como o suceder do dia e da noite, por que não se tomam medidas capazes de prevenir a catástrofe? Nunca se viu uma mobilização seja do GDF, seja do Ibama, seja de outros órgãos do governo federal para esclarecer a população dos riscos que gestos impensados representam para o meio ambiente. Muita gente não tem consciência dos prejuízos causados pelas queimadas.

Mobilizados, homens e mulheres são capazes de colaborar com as autoridades. De um lado, podem ficar atentos aos descuidos que provocam incêndios. Elimina-se, assim, uma causa importante da tragédia que se reprisa incansavelmente. De outro, podem atuar como bombeiros. Ao verem pequenos focos, intervêm e impedem a propagação do fogo. É utópico esperar que o Corpo de Bombeiros atue em todas as frentes. A população precisa ser parceira dos profissionais que se desdobram para atender aos chamados que se multiplicam na estiagem.

Brasília é exemplo de que a convocação da população dá respostas que ultrapassam as expectativas. Vale o exemplo da Campanha Paz no Trânsito. O respeito à faixa de pedestres tornou-se símbolo de civilidade na convivência em vias da capital. Impõem-se campanhas esclarecedoras maciças. Verbas publicitárias devem ser usadas para fins nobres. Muita informação corretamente veiculada leva ao engajamento da sociedade. Queimada, vale frisar, não é fatalidade. É má gestão.