Título: Bornhausen e Amin chegaram à Arena oriundos da UDN
Autor: Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Especial, p. A14

Esperidião Amin e Jorge Bornhausen estiveram boa parte do tempo coligados nas disputas políticas de Santa Catarina, dos anos 70 até as mais recentes eleições ao governo no Estado, em 2002. Oriundos da Arena, ambos governaram o Estado e o representaram no Congresso Nacional, em disputas acirradas na maior parte das vezes unidos contra o PMDB.

Mas algumas rupturas já haviam existido entre os dois, antes da deflagrada neste ano. Em situações impossíveis, como em 1994, quando a esposa de Amin, Ângela, saiu candidata ao governo de Santa Catarina, e Bornhausen também foi candidato. E em situações improváveis: quando num segundo turno desse mesmo pleito, Bornhausen não se uniu ao clã Amin e apoiou Paulo Afonso, do PMDB, que venceu as eleições.

Em períodos anteriores, nos anos 80, quando o PFL acabara de surgir, outros rachas existiram. Bornhausen ajudou a derrotar o candidato de Amin para a Prefeitura de Florianópolis, Francisco de Assis, em 1985. E em 1986, o apoio às candidaturas estaduais também os contrapôs. Amin estava com Amílcar Gazaniga, e Bornhausen, com Vilson Kleinübing.

Mas não há como negar que os dois se fizeram na política praticamente juntos. Ambas as carreiras ganharam impulso praticamente no mesmo momento. Em 1978, por meio de eleição indireta, Bornhausen chegava ao primeiro posto de forte representatividade: governador de Santa Catarina, pela Arena. Neste mesmo ano, Amin conseguia 72,3 mil votos e se elegia como o deputado federal mais votado no Estado, também pela Arena, um ano após ter sido prefeito de Florianópolis.

A forte aliança dos dois permitiu que a partir de então não saíssem mais do poder. Em 1982, Bornhausen passa o governo do Estado para Amin e inicia sua carreira como senador, em uma delicada eleição, em que venceu o candidato do PMDB, Pedro Ivo, com 816 mil votos, uma diferença de apenas dois mil votos. Em seguida, em 1990, Amin se elege ao Senado numa coligação com Bornhausen e juntos ganham o dobro de votos do rival PMDB. Em 1998, fazem nova dobradinha: Amin elege-se novamente governador do Estado em coligação com o PFL e Bornhausen ganha novamente as eleições para o Senado, apoiado por Amin, em uma situação bem diferente da sua eleição anterior ao senado. Recebeu dessa vez o dobro de votos do PMDB, 1 milhão.

O senador pefelista, que praticamente todos os fins de semana vem a Santa Catarina, é um nome que surgiu na política do Estado a partir de famílias tradicionais na política do Estado: os Konder e os Bornhausen. Seu pai Irineu foi governador em 1950 pela UDN. Já Antônio Carlos Konder Reis, primo de Bornhausen, foi governador em 1974, em eleição indireta pela Arena, passando a função justamente para Bornhausen quatro anos depois.

Já Amin fez o que se costuma chamar de vôo solo. Ele é filho de um empresário do comércio de Santa Catarina, ligado à UDN. Estudou em bons colégios, fez faculdades e entrou na política. Hoje, da sua família, apenas a esposa se interessou em seguir pela mesma carreira. Ângela Amin foi a primeira prefeita de Florianópolis, eleita em 1996 e reeleita em 2000. Hoje, a exemplo de Paulo Bornhausen, disputa uma cadeira na Câmara federal.

Para Bornhausen, a ruptura com Amin é completamente explicável. "A eleição mais importante para mim é a de presidente da República. O PFL procurou parceiros para coligação no Estado. Mantivemos entendimentos com o PP. Mandamos uma carta, e na resposta eles omitiram a hipótese de apoiar Geraldo Alckmin (PSDB), portanto, negaram o apoio, o que não nos satisfez". Segundo ele, desde o primeiro momento, o PMDB de Santa Catarina manifestou apoio a Alckmin.

Bornhausen diz que o fato de ele e Amin estarem em campos opostos, contudo, não significa que as relações tenham sido cortadas. "Mantenho relações de amizade e tenho admiração pelo ex-governador", diz. Mas sobre a possibilidade de no futuro vir a se coligar novamente com o PP, ele diz: "Acho difícil porque não vejo como o PP venha a conseguir ultrapassar a cláusula de barreira. E, na hora que "desaparecer" o partido, cada líder vai escolher seu rumo". E um dos caminhos naturais do PP é o PFL. (VJ)