Título: PP e PFL minguam em Santa Catarina
Autor: Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2006, Especial, p. A14

Dos 126 milhões de eleitores do país, 10% são filiados a partidos políticos. O Estado que lidera a lista é Santa Catarina - 14,6% de seus eleitores são filiados a partidos. Quem puxou essa filiação nos últimos quatro anos foram, respectivamente, PSDB, PT e PMDB. O PFL e o PP, do senador Jorge Bornhausen e do ex-governador Esperidião Amin, que durante décadas revezaram-se no poder no Estado, perderam eleitores.

Dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SC) sobre o número de eleitores filiados entre junho de 2002 e junho de 2006 mostram que a base do PP encolheu 4,7%, e a base do PFL cresceu apenas 1% desde as eleições de 2002. Por outro lado, partidos menos tradicionais no Estado como PT e PSDB registraram crescimento expressivo no número de filiações, superior a 20% na mesma comparação.

"Quando perdemos o governo do Estado em 2002, ainda que por poucos votos, ficou mais difícil conseguir filiados. O poder atrai as pessoas", afirma Aldo Rosa, secretário geral do PP em Santa Catarina, citando o interesse em cargos comissionados como o motor da troca de partidos de parte dos filiados. Parte dos filiados do PP migrou principalmente em direção ao PMDB, que ganhou o governo do Estado em 2002, e para o PSDB, que saiu vitorioso das eleições municipais em 2004.

Segundo o TRE catarinense, embora PP e PFL ainda continuem entre as três maiores agremiações do Estado, o número de filiados do PP caiu de 134 mil em 2002 para 127 mil neste ano, e o do PFL saiu de 109 mil em 2002 para 110 mil em 2006. Já o PSDB cresceu 52%, indo de 44 mil para 68 mil, e o PT cresceu 22%, de 33 mil foi para 40 mil.

Esperidião Amin, que passou a dar aulas no curso de Administração de Empresas da Universidade Federal de Santa Catarina depois de ter perdido para Luiz Henrique da Silveira (PMDB) a disputa ao governo do Estado em 2002, é candidato pela terceira vez ao governo do Estado.

Ele diz que o governo pemedebista promoveu uma grande "cooptação" dos deputados de seu partido. Dos 10 deputados estaduais eleitos pelo PP em 2002, 4 foram para o PMDB. Segundo ele, houve uma "migração oportunista". Mas na sua opinião, essa diminuição não significa perda de poder do seu partido porque a base estrutural, as pessoas que historicamente o construíram, foi mantida.

As mudanças significativas no comportamento dos filiados em Santa Catarina ocorreram depois das eleições de 2002, justamente com a eleição de Silveira para governador. Naquele ano, houve a disputa apertada entre PP e PMDB pelo governo estadual, a mais acirrada da história e daquele ano no país, na qual Amin perdeu por somente 20,7 mil votos. E dois anos depois, PSDB e PT se destacaram na conquista de prefeituras, contribuindo para a atual conjuntura de filiações. O PSDB pela primeira vez passou a governar a capital e a mais populosa cidade do Estado, Joinville. Já o PT passou de 13 prefeituras para 23 no Estado.

Para o secretário-geral do PFL-SC, Pedro Bittencourt, o avanço pouco expressivo do PFL está relacionado basicamente ao fato de o partido não estar no poder. Ele também diz que o partido não tem sido agressivo nas campanhas como outros o foram porque se considera um partido consolidado no Estado. Mas nos bastidores comenta-se que o PFL está sem um nome ainda forte em Santa Catarina para ocupar o lugar de Jorge Bornhausen, que sempre "carregou" o partido, e que se aposenta no ano que vem.

A aparente tentativa de colocar Paulo Bornhausen, seu filho, como sucessor foi tida como frustrada pelos críticos depois que Paulo perdeu as eleições para o Senado em 2002. Hoje disputa uma vaga de deputado federal.

Bornhausen contesta dizendo que não está se aposentando. Vai continuar com a vida no partido. Está apenas "deixando de concorrer a cargos para abrir espaço aos mais jovens, à renovação". E também diz que vê Paulo como um nome forte do partido. Mas pondera: "A política não é uma monarquia, que se passa de pai para filho. Tudo vai depender da capacidade dele. Há espaço para ele procurar ser um líder importante do partido. Até agora acho que está indo bem".

Para o cientista político da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Julian Borba, o declínio do PP e o pouco crescimento do PFL demonstram em parte uma tendência nacional, e em parte uma realidade estadual. "Em Santa Catarina, PT e PSDB, antes eram partidos menores. Agora estão mais competitivos". Na opinião de Borba, 2002 foi o ano do PT no Estado. Ele conseguiu eleger 9 deputados estaduais, e se beneficiou da vitória de Lula, conquistando filiados com a forte campanha nacional aberta pelos petistas. Já 2004 foi o ano do fortalecimento do PSDB no Estado. Depois da eleição ao Senado de Leonel Pavan em 2002, os tucanos construíram sede administrativa nos mais diferentes municípios e ganharam eleições em 27 prefeituras, quase o dobro do que tinham em 2000.

Desde o surgimento, PP e PFL sempre estiveram presentes em Santa Catarina. Durante anos, Amin e Bornhausen disputaram as eleições estaduais e federais coligados, unidos contra o PMDB. No entanto, depois de tantas mudanças desde 2002, Bornhausen dessa vez está unido ao PMDB e ao PSDB, numa tríplice aliança contra o PP, uma "coligação inexplicável", nas palavras de Amin.

A dúvida agora é quanto a base de filiação vai interferir no processo eleitoral. Para Amin, os 4,7% de queda não são representativos. O PP continua numeroso, sendo a soma de PT, PSDB e PL igual ao número de filiados que o PP tem hoje. Já para o secretário-geral do PMDB-SC, Adélcio Machado, o número de filiações poderá ser decisivo. "Nas eleições para presidente, com a vitória de Fernando Collor, já vimos que o número de filiados não decide, mas no campo estadual faz diferença. Até porque cuidamos para ter uma filiação que seja militante".

De acordo com os dados do TRE catarinense, o PP não é mais o maior partido de Santa Catarina, como era em 2002. Seu posto foi ocupado pelo PMDB, que aparece com 141 mil, tendo crescido 15% desde 2002, o que é atribuído pelo partido em grande parte pela eleição de Silveira ao governo do Estado.