Título: O estrago do Santos
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2004, Eu, p. D1

Cerca de 76% do total de 2.596 cotistas que mantinham recursos no Banco Santos - sob intervenção desde o dia 12 de novembro - podem sofrer perdas que chegariam até à totalidade dos valores que investiram. O dado consta de um estudo elaborado pelo site financeiro Fortuna que constatou que, dos 19 fundos da instituição abertos ao público em geral, cinco não tiveram perdas, seis terão de provisionar praticamente todo o patrimônio o patrimônio e outros oito deverão fazer algum tipo de provisão e permitirão saques com base em alguns ativos líquidos. "Em termos de volume, as seis carteiras que tiveram de fazer provisão integral para perdas representam 89% do total aplicado em fundos abertos", afirmou Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna. As provisões refletem a reavaliação dos papéis das carteiras tendo em vista o risco de parte deles não serem pagos. Muitos títulos apareciam no fundo pelo valor de face, mesmo sem terem liquidez alguma ou serem emitidos por empresas em dificuldades, como a Interclínicas, ou pelo próprio Banco Santos. Mas caso os devedores venham a pagar esses títulos, o cotista receberá o dinheiro, por isso não se pode ainda considerar as provisões feitas como uma perda total. Num primeiro momento, serão considerados com valor zero todos os ativos de emissão ou obrigação do Banco Santos ou do grupo (debêntures da empresa Procid, CDBs e outros papéis), assim como ativos sem liquidez no mercado, como debêntures de outros emissores, Cédulas de Crédito Bancário (CCBs) e Cédulas do Produtor Rural (CPRs). Os CCBs são títulos das empresas clientes do banco - é uma espécie de nota promissória emitida pela companhia, estruturada pelo banco e vendida para o fundo. Já a CPR é um papel de dívida emitido por uma empresa agrícola com garantia na produção. O estudo sobre os fundos do Banco Santos foi elaborado com base nas informações que estão disponíveis no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e nos dados do Fortuna. D'Agosto explica que analisou apenas os fundos abertos, pois há mais informações disponíveis. Além disso, alguns fundos exclusivos já foram transferidos para novos administradores. Chama a atenção no estudo que fundos com muitos cotistas, como o Credit Yield e o Virtual, estão entre os que sofreram maior impacto das provisões. Nem o fundo Pro Amem, voltado para projetos sociais, escapou. Além dos seis fundos que terão provisão para perda da totalidade de suas carteiras, outras seis carteiras da gestora de recursos do Banco Santos podem causar perdas acentuadas, que chegam a superar 93% do patrimônio. As carteiras Santos IV DI, Pro Amem FIF, Santos Agro Brasilis DI, Santos Maxi Money DI, Santos Pecuário e Santos Princípio devem fazer cisões e separar num outro fundo os ativos da carteira relativos às provisões, que variam de 22,9% a 93,9% . Ou seja, os títulos líquidos, que podem ser vendidos do mercado, ficarão no fundo, e poderão ser usados para pagar os cotistas que queiram sacar os recursos. Já a outra parte, provisionada, ficará separada até o vencimento dos papéis e seu pagamento. Caso eles não sejam pagos, o investidor perderá o valor investido. No caso do Agro Brasilis, o valor provisionado corresponderá a menos de 10% do total investido no fundo, permitindo aos clientes resgatar os 90% restantes. Para pedir o resgate, basta ligar nos números: 0800-127000 ou 4002 8002. Na sexta-feira, a CVM divulgou em seu site ( www.cvm.gov.br ) uma lista com a situação de todos os fundos de investimento da Santos Asset Management (SAM). Na lista, constam 29 fundos que foram liberados para saques, que serão pagos a partir do dia 27 de dezembro. Os cotistas devem pedir os resgates até dia 26. Outros 42 fundos foram ou estão sendo transferidos para novos administradores. Algumas carteiras constam no site da autarquia com patrimônio líquido negativo, mas o gerente de relações com investidores institucionais da CVM, Luís Felipe Lobianco informou que os cotistas devem ficar calmos, pois não se trata de indício de operações de alavancagem (que poderiam exigir aportes além das perdas). "Esses valores que aparecem como negativos são relativos a despesas administrativas", disse Lobianco. Ele acrescentou ainda que está estudando uma solução. Já os cerca de 2 mil cotistas que participam dos fundos que terão provisão para perda integral deverão aguardar o aviso do interventor para as assembléias, conforme informou o Valor na edição de sexta-feira. Eles deverão deliberar sobre o que fazer com as carteiras. Entre as possibilidades está a de tentar vender alguns ativos com deságio. Outra opção é receber os papéis do fundo - inviável em carteiras com muitos investidores já que seria difícil dividir os papéis igualitariamente entre os cotistas. Outra alternativa será manter o fundo fechado para resgates até o vencimento dos ativos. O gerente da CVM ressalta que essas provisões não significam que parte das perdas não poderão ser revertidas no futuro. "Alguns ativos podem ser honrados no vencimento", disse ele. (Colaborou Angelo Pavini)