Título: Horizonte ainda nebuloso
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2006, Eu & Investimentos, p. D1

A volta dos investidores internacionais depois das férias de verão no Hemisfério Norte e os dados que mostram o ritmo da atividade econômica americana são as variáveis-chave que ditarão o movimento dos mercados neste mês de setembro. A preocupação dos economistas agora não é mais com a inflação, mas com a possibilidade de a economia dos Estados Unidos entrar em recessão, o que traria fortes impactos principalmente para as bolsas do mundo todo, que devem oscilar ao sabor de cada número divulgado lá fora.

A forte volatilidade deu o tom da bolsa brasileira já em agosto, provocando perda de 2,28% no Índice Bovespa. Com retorno acumulado no ano de 8,30%, o Ibovespa perdeu a liderança para o CDI, que acumulou 1,26% em agosto e 10,41% desde janeiro. Com a instabilidade externa afetando a bolsa e o dólar em queda de 1,42%, as aplicações de renda fixa tiveram o melhor desempenho do mês, cenário que pode se repetir neste mês.

Os indicadores do mercado imobiliário nos EUA serão particularmente monitorados pelos investidores. Os especialistas dizem que esses números são bons sinalizadores da atividade econômica. A maioria acredita, entretanto, que o cenário de desaquecimento suave irá prevalecer. "O mundo não vai sair da festa para o enterro", diz Beny Parnes, ex-diretor do Banco Central e diretor da asset management do Banco BBM. O banco vê nos papéis da Vale do Rio Doce um bom potencial depois das quedas de agosto, que fizeram os fundos de privatização da empresa perderem 9,49% até dia 28.

Para o mercado interno, os economistas dizem que não há perspectiva de eventos negativos que causem fortes impactos nos investimentos. O cenário político deve se definir e a especulação ficará com relação aos corte nos juros na próxima reunião do Copom em outubro, se 0,25 ou 0,5 ponto.

Aplicar em bolsa neste momento é recomendável apenas para quem agüentar o sobe-e-desce. Além disso, o investidor deve buscar papéis com bons fundamentos e que podem ser beneficiados pelo crescimento da economia brasileira. "Não considero uma estratégia interessante concentrar aplicações em bolsa neste momento", diz Alexandre Espírito Santo, sócio da Avanti Gestão de Recursos e chefe do Departamento de Economia e Finanças da ESPM-RJ. Para quem, no entanto, tem apetite para o risco, ele recomenda as ações da Petrobras, consideradas defensivas pelo mercado e beneficiadas pelo aumento do petróleo, além de estarem baratas frente às concorrentes internacionais do setor. Em agosto, os fundos Petrobras perderam 3,19% até dia 28.

Já os papéis de siderurgia começam a perder a atratividade no curto prazo por causa do desaquecimento da economia americana, avalia Espírito Santo. Por isso, ele diz estar diminuindo a exposição ao setor e aumentando em comércio, construção e saneamento. Entre os papéis indicados estão Submarino, Eternit, Cyrela e Sabesp. As ações de bancos também aparecem no portfólio do executivo.

Mas para os investidores que têm visão de longo prazo, de pelo menos três anos, o momento pode ser de compra de ações, avalia Antonio Azevedo, gestor de renda variável da Ático Asset Management. Passadas as incertezas e não havendo nenhum evento catastrófico, a bolsa deve ter um desempenho bastante positivo, diz o executivo. Entre as ações com potencial de alta, ele cita os papéis das empresas ligadas diretamente ao setor de construção civil, como Duratex, Eternit e Gerdau. As geradoras de energia também devem ser beneficiadas com o maior consumo.

A bolsa brasileira não está cara, diz Júlio Cardozo, gestor de carteiras do Banco BVA. "Mas, no curtíssimo prazo, as incertezas com relação à inflação e à desaceleração da economia americana, juntamente com a alta do preço do petróleo, tiram um pouco o brilho da bolsa."

Com o fim das férias, parte do fluxo de investimentos internacionais pode voltar para os emergentes, mas isso também vai depender do desempenho da economia americana. "O Brasil está muito bem colocado entre os emergentes e o movimento de captações já está voltando a ganhar volume", diz Daniel Vairo, gestor da Opportunity Asset Management.