Título: Sucessão na Coreia do Norte eleva tensão na Ásia
Autor: Oliver,Christian
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2011, Internacional, p. A9

A morte de Kim Jong-il jogou a península da Coreia na incerteza ontem, quando o regime norte-coreano nomeou o inexperiente filho mais novo do ditador como o "Grande Sucessor", o que sacudiu os mercados financeiros no sul.

Numa solene transmissão pela TV, um apresentador norte-coreano anunciou que Kim Jong-eun assumiria o poder, depois de seu pai, de 70 anos, ter morrido de um ataque cardíaco no sábado, enquanto viajava de trem perto de Pyongyang. "Ele trabalhou dia e noite pela construção socialista e felicidade do povo, pela união e modernização do país", disse o apresentador com olhos lacrimejantes. "Ele nos deixou tão repentinamente."

A morte de Kim Jong-il livra o mundo de um de seus líderes mais impiedosos, de um homem que transformou um Estado totalitário em uma potência nuclear enquanto milhões de seus habitantes morrem de fome.

A transferência de poder ao filho, que, segundo relatos, não teria mais de 28 anos, poderia ameaçar a estabilidade no Leste da Ásia, já que o herdeiro da dinastia Kim poderia ter dificuldades para governar um país pressionado por sanções internacionais, fome e cortes de energia.

A vizinha Coreia do Sul colocou ontem as suas Forças Armadas em estado de emergência.

A China, aliado mais próximo do regime comunista norte-coreano, disse ter certeza de que o povo norte-coreano se unirá em torno da nova liderança e "transformará sua angústia em força".

O premiê do Japão, Yoshihiko Noda, disse ser importante "assegurar que a situação não tenha efeito negativo sobre a paz e a estabilidade da península coreana". A Coreia do Norte tem arma nuclear.

Kim Jong-il, conhecido por seu gosto por comidas exóticas e conhaque, havia ficado visivelmente frágil depois de ter sofrido um derrame em 2008. Em 2010, ele indicou seu filho como sucessor, tornando-o general de quatro estrelas, apesar de Kim Jong-eun nunca ter sido militar.

Ainda é incerto até que ponto Kim Jong-eun, chamado de "Grande Sucessor" pela mídia norte-coreana, teve condições de solidificar o apoio a ele desde que foi indicado, especialmente dos militares.

Durante o período em que teve problemas de saúde, Kim promoveu a filha mais nova, Kim Kyong-hui, e o marido dela, Chang Sung-taek, a posições das quais poderão supervisionar a sucessão. Analistas dizem que seu papel será decisivo para assegurar uma transferência suave de poder.

Brian Myers, especialista em ideologia norte-coreana na Universidade Dongseo, na Coreia do Sul, disse ser inimaginável a hipótese de que comandantes militares tomem o poder, porque todo o Estado foi fundado com base na continuidade da dinastia de Kim.

O maior perigo, segundo analistas, é que generais rivais e autoridades do partido disputem poder, usando Kim Jong-eun para as suas ambições.

A Coreia do Sul há muito identificava a morte de Kim Jong-il como um evento que poderia acelerar a unificação da península, dividida desde 1945. As ações do índice Kospi, referencial do mercado em Seul, caíram 3,4% em meio às incertezas.