Título: Produção de vagões deve cair 50% este ano
Autor: Nakamura, Patrícia e Balarin, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2006, Empresas, p. B1

Depois de registrar um recorde de produção no ano passado, quando foram vendidas 7,5 mil unidades, a indústria de vagões para carga enfrenta uma retração que já causou 600 demissões este ano, segundo a Abifer, associação da indústria ferroviária, e o Simefre, sindicato que agrega os fabricantes de materiais rodoviários e ferroviários. Até o final do ano, a indústria estima que serão produzidas 3,8 mil unidades, uma redução de quase 50% em comparação com o ano passado. No primeiro semestre, as vendas caíram 20%, totalizando 2.994 unidades.

Uma das razões para o encolhimento do mercado foi a redução das compras da Vale do Rio Doce, que no ano passado adquiriu 2,5 mil vagões no primeiro semestre e este ano comprou apenas 960, segundo dados do Simefre. A retração no agronegócio, que representa cerca de 20% da carga transportada em ferrovias no Brasil, foi outro fator, segundo Luis Cesario da Silveira, presidente da Abifer.

A fabricante de vagões Amsted-Maxion, que detém 80% do mercado, demitiu ontem 178 funcionários da fábrica em Cruzeiro (SP), após dispensar 300 pessoas em Ortolândia (SP) no mês passado. Sua produção de 6,5 mil vagões em 2005 cairá para 3.020 este ano, segundo o diretor de relações com investidores Oscar Becker. Para ele, é natural que as vendas fiquem em 4 mil unidades, próxima à média anual de compras nos últimos anos. "A exceção foi o ano passado, quando a Vale do Rio Doce ampliou as encomendas devido ao aumento da demanda de minério de ferro."

Segundo Becker, a ALL cancelou parte do pedido de 1,2 mil vagões da Brasil Ferrovias, comprada por ela em maio deste ano, o que causou uma pequena queda nas vendas previstas. Segundo ele, a encomenda de 480 vagões foi cancelada. Procurada pelo Valor, a ALL não quis se pronunciar.

A Randon, que fabrica vagões há três anos em Caxias do Sul (RS), está destinando parte da linha de produção para atender a demanda de carrocerias e semi-reboques. "Nossa fábrica é flexível e por isso não fizemos demissões", explica o diretor comercial Marcos Zanotti.

As fornecedoras de componentes para vagões já sentem os efeitos da retração. A paulista MWL, fabricante de rodas forjadas e eixos, demitiu 100 dos seus 500 funcionários este mês devido a uma retração de 40% na demanda. A Cruzaço, de Jarinu (SP), que produz truques, sistemas de choque e tração para vagões, dispensou 30 pessoas este mês. Em outubro, ela concluirá a entrega para 81 vagões da Santa Fé e não tem mais nenhum pedido em carteira.

A francesa Faiveley, fornecedora de sistemas de freio para vagões, diz não ter nenhum pedido para este semestre, segundo o presidente Carl Alvenius. "A saída foi direcionar os esforços para a área de passageiros, no qual a empresa atua fabricando portas e ar condicionado", diz.