Título: Autoridade vislumbra mais contágio
Autor: Atkins ,Ralph
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2011, Finanças, p. C2

A região do euro depara-se com o sério risco da crise de suas dívidas soberanas se espalhar para outros países-membros, em decorrência das incertezas políticas, rebaixamentos de classificação de crédito ou de receios com os bancos da região, alertou o Banco Central Europeu (BCE).

A avaliação mais recente do BCE sobre a estabilidade financeira da região do euro, divulgada ontem, destaca que o "contágio das tensões com as dívidas soberanas da área do euro continua sendo o risco mais premente para a estabilidade financeira da área do euro, da UE [União Europeia] e mesmo por todo o globo".

Os comentários ressaltam a preocupação do BCE com o fracasso dos políticos da região em controlar a crise e com o risco de os planos de austeridade fiscal dos países serem descarrilados pelos políticos domésticos.

De acordo com o BCE, a volatilidade dos mercados de bônus da região do euro chegou aos mesmo nível observado antes da quebra do banco de investimento Lehman Brothers no fim de 2008 - e estão acima dos verificado em maio de 2010, quando a crise da região do euro chegou a seu momento mais intenso anterior.

O informe não cita que países estariam mais vulneráveis ao contágio, mas Vitor Constâncio, vice-presidente do BCE, disse que são "os que se comentam". O banco central pode estar se referindo a países como Chipre e Bélgica, com grandes volumes de dívidas soberana vencendo em 2012.

Constâncio disse que os riscos à estabilidade financeira da região do euro "aumentaram consideravelmente" no segundo semestre de 2011. O informe do BCE não ponderou os riscos de um desmembramento da região do euro porque o cenário é "inimaginável", afirmou. Mesmo a saída de apenas um membro teria consequências imprevisíveis. "A dinâmica de um evento tão grande não pode realmente ser prevista e poderia ser, de fato, muito perigosa", alertou.

Outros riscos à estabilidade financeira da região do euro, de acordo com o BCE, são as dificuldades de financiamento no sistema bancário - que o BCE buscará resolver na quarta-feira quando oferecerá, pela primeira vez, empréstimos ilimitados de três anos aos bancos. O aumento da probabilidade estimada de um cenário de inadimplência de dois grandes bancos da região do euro ao mesmo tempo "foi maior e mais agudo do que no passado, levando esse cálculo de risco sistêmico a alturas que não eram observadas desde sua origem, em 2007", destaca a avaliação. Constâncio também ressaltou o risco de um aperto no crédito atingir a economia real.

A avaliação sobre estabilidade financeira apontou que a rápida adoção de mecanismos de resgate e das normas fiscais acertadas no encontro de cúpula europeu deste mês suavizarão "consideravelmente" o risco de disseminação da crise da dívida.

O informe, no entanto, cita possíveis "gatilhos" para uma escalada da crise. O mais importante, alertou, seria qualquer "incerteza política doméstica prolongada em países vulneráveis" combinada à falta de progresso na consolidação fiscal, o que "corroeria ainda mais a confiança no processo de ajuste".

Outros possíveis gatilhos seriam más notícias sobre os lucros ou solvência dos bancos, rebaixamentos de classificações de crédito de países ou bancos da região do euro e incertezas relacionadas às tentativas dos governos da região do euro em impor prejuízos aos detentores de bônus gregos via "envolvimento do setor privado".

Outro risco apontado pelo BCE é que os políticos da região do euro não consigam colocar em vigor os planos de uma nova região do euro fiscal "compacta" ou tornar totalmente operacional o fundo de resgate da UE, o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF, na sigla em inglês),.

O informe conclui: "A vulnerabilidade a novos contágios continua mais alta para os países que são vistos como possuindo uma combinação de posições fiscais vulneráveis, condições macrofinanceiras frágeis e potencial para mais prejuízos significativos no setor bancário".