Título: Corrupção movimenta 'milhões de reais'
Autor: Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2006, Agronegócios, p. B11

O roubo e a falsificação de ATPFs (Autorizações de Transporte de Produtos Florestais) têm sido uma tradição lucrativa no Brasil, envolvendo diferentes esferas do setor público - promotoria, políticos, polícia e funcionários do Ibama. A Polícia Federal (PF) estima que o esquema de concessões desses documentos tenha atingido a casa dos "milhões de reais". Só na última operação, neste mês, a venda de ATPFs roubadas deve ter gerado R$ 5 milhões.

Em conjunto com o Ibama, a PF realizou dez operações de combate à corrupção e repressão de quadrilhas especializadas em crimes ambientais nos últimos três anos. O saldo foi de 600 mil metros cúbicos de madeira ilegal, a maior parte da Amazônia, volume suficiente para encher 26 mil caminhões. As operações prenderam 271 pessoas, incluindo 78 servidores públicos e 193 madeireiros, despachantes e comerciantes.

"São operações para quebra dos esquemas de corrupção", diz Flávio Montiel, diretor de proteção ambiental do Ibama. Segundo ele, um terço dos funcionários do Ibama envolvidos nos esquemas foi demitido ou exonerado de cargos comissionados. O restante está afastado até o término do processo administrativo. Os funcionários trabalhavam nos escritórios do Mato Grosso, Rondônia, Pará, Amazonas Acre e Amapá, não à toa por onde circula boa parte da madeira.

O Ibama realizou dois concursos públicos nos últimos dois anos, elevando em 1.900 o número de funcionários, para cerca de 6.500. Em alguns casos, houve aumento salarial de 100% e foram criadas gratificações por desempenho. Quem entra no órgão, começa ganhando R$ 3.100. A questão salarial é vista como crucial para combater a corrupção, afirma Montiel.

A última operação, feita no início do mês, envolveu o roubo de 200 ATPFs e 14 funcionários do Ibama, dois terceirizados e um procurador federal. Segundo o delegado Jorge Pontes, da PF, cada ATPF era vendida por até R$ 5 mil.

Antônio Carlos Hummel, diretor de Florestas do Ibama, acredita que o sistema eletrônico fará despencar os preços nesse mercado. "Agora as ATPFs serão vendidas a preço de banana". (BB)