Título: Lula vai priorizar Doha, mas interesse de Davos é o crescimento brasileiro
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2007, Brasil, p. A2
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer aproveitar o Fórum de Davos, o encontro da elite econômica e política global, na semana que vem, para aumentar a pressão com outros chefes de governo pela retomada da Rodada Doha, a rodada global de negociações para liberalizar o comércio agrícola, industrial e de serviços.
Enquanto o Fórum Mundial de Economia, entidade que organiza o encontro, focaliza seu interesse sobre o Brasil nas questões de crescimento, a prioridade do governo brasileiro nos Alpes suíços parece claramente ser mesmo Doha.
Um dos principais compromissos do presidente Lula em Davos será um encontro fechado para falar da economia em geral, mas sobretudo de Doha, com alguns outros chefes de governo e os principais negociadores comerciais.
Entre os participantes, conta-se o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, a representante americana Susan Schwab, o comissário europeu, Peter Mandelson, o ministro indiano de Comércio, Kamal Nath, e o ministro Celso Amorim.
A pressão pode ser importante. Mas Angela Merkel, a chefe do governo alemão, que tem a presidência rotativa da União Européia, já terá retornado a Berlim. Além disso, reunião de comércio que realmente conta precisa ter o americano George W. Bush. Ele sempre promete impulso político, mas seus representantes não colocam cartas na mesa para reduzir os subsídios agrícolas domésticos.
Mais tarde, na sexta-feira, o governo suíço organiza uma miniconferência de ministros de 26 países e o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, com poucas chances de avanço para quebrar o impasse na negociação global.
Para tarimbados negociadores, não se pode esperar algo acontecer antes da eleição presidencial francesa. Só que ela é em maio, após a "janela de oportunidade" que os países acreditam fechar em abril.
Enquanto isso, o Brasil, os Estados Unidos e a União Européia (UE) realizam em Washington barganhas sobre cotas tarifárias na área agrícola. A questão é como um eventual acordo entre os três, sobre volumes das cotas de produtos sensíveis como frango, carnes bovina e de porco, açúcar, poderá ser estendido e aceito pelos outros países membros da OMC mais tarde - se a rodada for retomada.
Além do subsecretário de Assuntos Econômicos do Itamaraty, Roberto Azevedo, também estaria ontem em Washington o diretor-geral de Agricultura europeu, Jean-Luc de Marti.
O governo indiano demonstra irritação por estar fora dessas discussões em nível de altos funcionários. Pascal Lamy visitou ontem Nova Déli, entre outras coisas para encorajar os indianos a se engajar mais nas articulações.
"A prioridade do Brasil é claramente comércio em Davos", nota Emilio Loroya, diretor de América Latina do fórum. Já o único debate sobre o Brasil, que ocorrerá também na sexta-feira durante um almoço num hotel da cidade, se concentra em crescimento. O fórum interroga sobre o desempenho "muito pobre" da economia brasileira comparado a China e Índia. Quer saber quais reformas serão necessárias para acelerar a expansão, quanto o país pode ganhar reduzindo a economia informal, como o país pode diversificar a economia para competir com a "Chinindia" e quais setores serão vencedores.
Esse debate será comandado por Kristin Forbes, professor de economia do MIT, dos Estados Unidos, e por Jorma Halonen, vice-presidente da Volvo. Normalmente, participa do almoço executivo que é responsável na empresa pelas atividades no país.
Como o mais provável é que o presidente Lula desembarcará em Davos após ter anunciado o Programa de Aceleração Econômica (PAC), as questões serão respondidas. O presidente chegará na estação alpina na quinta-feira e terá logo encontros bilaterais.
Na sexta-feira, dia 26, ele vai ao plenário do fórum para uma "conversa" de 20 minutos. À tarde, está prevista outra participação em debate sobre a América Latina, que durará 50 minutos.