Título: Conteúdo líquido
Autor: Valenti, Graziella
Fonte: Valor Econômico, 02/01/2012, Investimentos, p. D1

O mercado brasileiro fechou 2011 com 150 ações que movimentam mais de US$ 1 milhão ao dia, quantidade cinco vezes maior que em 2000, quando apenas 30 papéis ofereciam essa liquidez diária aos investidores.

A baixa variedade de ativos com boa negociação era uma crítica recorrente à bolsa brasileira. O cenário melhorou significativamente desde então.

Das 150 ações com movimentação milionária, exatas 75 são de empresas que chegaram à BM&FBovespa depois da criação do Novo Mercado ou que se "reinventaram" e se capitalizaram nesse segmento diferenciado de governança.

Nesse período chegaram à BM&FBovespa 140 novas empresas que, junto com companhias que já eram abertas, realizaram mais de 230 ofertas de ações, movimentando um total de R$ 371 bilhões.

A chegada das novatas foi boa também para as veteranas, já que trouxe ao mercado mais investidores e, portanto, mais recursos.

Em 2000, o volume transacionado por dia na BM&FBovespa era de apenas US$ 410 milhões e, no acumulado de 2011, a média por pregão é quase dez vezes maior, US$ 3,9 bilhões.

Nesse período, o Índice Bovespa saiu de 7.804 pontos, em dólares, para 31.406 pontos. O valor de mercado da bolsa saiu de US$ 225,5 bilhões para os atuais US$ 1,2 trilhão.

Em 11 anos, o mercado de capitais passou por mudanças importantes e houve uma melhora na percepção do país pelos investidores. No que diz respeito apenas à bolsa, houve a reforma da Lei das Sociedades por Ações, a criação do Novo Mercado e alterações em diversas áreas da regulação, entre elas a de atuação dos intermediários nas distribuições de ações - com a edição da instrução 400 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Pedro Rudge, sócio da Leblon Equities, acredita que a evolução do mercado reflete uma combinação de um cenário de maior liquidez global com a chegada de novos ativos no Brasil. "Se não houvesse esses papéis novos, os preços iriam explodir", ponderou ele, em relação aos ativos que já existiam no mercado local. "Uma coisa leva a outra."

Em 2004, ano do início da revitalização da bolsa, existiam 390 companhias listadas. Esse total saltou para 470 apesar dos sucessivos movimentos de consolidação dos setores e da contínua limpeza que a BM&FBovespa e a CVM seguem fazendo no mercado, em relação a empresas com registro praticamente inativo.

O ano de 2011 não foi brilhante quando o assunto são as novatas. Foram 11 novas empresas, num ano com 22 captações de ações, que movimentaram R$ 18 bilhões - só maior que os volumes de 2004 e 2005, quando o mercado ainda ensaiava a retomada.

Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa, afirmou que as condições de mercado fizeram com que 40 operações ficassem represadas.

Na CVM, há 15 pedidos de ofertas na lista de desistências e de indeferidos de 2011. Entre eles estão as companhias que pretendiam estrear na bolsa: Petrorecôncavo, Perenco (exploração de óleo e gás), Inbrands (moda têxtil), Enesa (energia), Companhia de Águas do Brasil (saneamento), Cimentos Liz (construção), Desenvix (energia), Copersucar (trading de açúcar e álcool) e Camil (alimentos).

Empresas já abertas também ficaram com ofertas pelo caminho, com a piora no cenário externo: Tereos, Vulcabrás, BrasilAgro e Inepar. A Desenvix decidiu listar os papéis no Bovespa Mais, mesmo sem oferta de ações.

Julio Ziegelmann, diretor de renda variável da BM&FBovespa, destacou que o Brasil se tornou muito mais atraente no intervalo avaliado pela pesquisa. Além disso, o volume de investimento de pessoas físicas e estrangeiros aumentou vertiginosamente.

O executivo atentou para as peculiaridades do mercado local, em relação a outros emergentes, que beneficiaram o desenvolvimento nos últimos anos.

"Só temos jumbo", disse Ziegelmann, referindo-se ao tamanho das companhias. Enquanto outros países emergentes, como a Índia, por exemplo, têm milhares de empresas listadas, o Brasil tem muito menos, mas muito mais liquidez. Isso porque as empresas abertas nacionais são muito maiores do que nos demais países. "Evoluímos de um jeito diferente e isso foi muito bom para nós."

Ele destacou que o desafio agora é aproveitar essa condição, de centro financeiro, para atrair empresas de menor porte para a BM&FBovespa. "Queremos oferecer essa possibilidade [de capitalização para crescimento] para empresas num estágio anterior de seu desenvolvimento."