Título: Uruguai teme ingresso de novos sócios
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Fonte: Valor Econômico, 18/01/2007, Brasil, p. A3

O Uruguai, um dos países que mais têm demonstrado insatisfação com os resultados do Mercosul, está preocupado com obrigações menores que os novos sócios teriam no processo de adesão ao bloco comercial. "Há preocupação de que as obrigações dos sócios novos não sejam equivalentes às do Uruguai", disse o embaixador Carlos Amorim, diretor-geral de comércio e integração da chancelaria uruguaia.

Amorim afirmou que o Uruguai vê a adesão da Bolívia ao Mercosul positivamente, mas entende que o tema deve ser tratado de forma cuidadosa. Um grupo de trabalho deve ser criado para discutir o assunto. Amorim avaliou que existe uma parte da relação comercial do Mercosul com a Bolívia que está adiantada, como resultado do acordo de reduções de tarifas de importação já em vigor. O problema é que a Bolívia tem tarifas de importação para produtos estrangeiros menores do que o Mercosul e, em além disso, quer manter-se como associada da Comunidade Andina (CAN). "É dona Flor e seus dois maridos", ironizou um diplomata.

Para o Uruguai, a eliminação do imposto de importação cobrado de produtos de terceiros países que entrem no bloco via sócios menores é um ponto central. O Uruguai apóia a proposta do Brasil de antecipar o fim da dupla cobrança da TEC para os sócios menores do bloco até que a medida seja válida para todos os membros. Segundo Amorim, o Uruguai fez comentários e ficou de encaminhar sugestões à proposta brasileira.

A preocupação do Uruguai é não criar um mecanismo paralelo à decisão 54 do Mercosul, que prevê a liberalização de bens no comércio intrazona, com o fim da dupla cobrança da TEC, em 2008. "A idéia é de que seja um adiantamento e que desapareça quando o sistema como um todo esteja em vigor", disse Amorim. Frente à resistência argentina de aprovar a medida agora, a saída para o Brasil deverá ser acertar acordos bilaterais com o Uruguai e o Paraguai em relação ao tema.

Na cúpula do Mercosul que começa hoje os ministros do bloco devem anunciar o objetivo de concluir até junho o acordo entre o Mercosul e os países do Conselho de Cooperação do Golfo. O acordo seria assinado em reunião ministerial do conselho, em meados de 2007.

O presidente do Equador, Rafael Correa, também deverá formalizar no encontro do Mercosul o interesse do seu país em se tornar membro do bloco comercial. "É possível que isso ocorra. Acho que é uma boa oportunidade", afirmou ao Valor o embaixador do Equador no Brasil, Eduardo Mora. Correa, que tomou posse na segunda-feira, já havia manifestado seu interesse de fazer parte do Mercosul em conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante visita a Brasília como presidente eleito. O novo mandatário equatoriano também falou sobre o assunto durante a campanha presidencial, mas até agora não ocorreu nenhum pedido formal de adesão.

Mora explica que o Equador, em um primeiro momento, não pretende abandonar a Comunidade Andina. O objetivo do governo equatoriano é permanecer no bloco durante o prazo de um ano para avaliar o seu funcionamento e só então tomar uma decisão. Ao se tornar membro do Mercosul, a Venezuela deixou a Comunidade Andina. (FG e RL)