Título: Pesos do IPCA vão mudar de novo, diz IBGE
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2011, Brasil, p. A3

O IBGE, mostrando tranquilidade em relação às críticas recebidas, considera prematuro o debate a respeito das novas ponderações do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, a partir dos números divulgados na segunda-feira passada com base nos resultados da Pesquisa Nacional de Orçamento Familiar (POF) de 2008/2009.

"A queda ou elevação exata só se saberá em janeiro de 2012", disse Eulina Nunes, Coordenadora de Índices de Preços do IBGE. Isso porque os dados divulgados representam um retrato de janeiro de 2009, mas para iniciar a série neles baseada será necessário atualizar cada item ou subitem com suas respectiva variação de preços ocorrida entre fevereiro de 2009 e dezembro de 2011.

"O que variou mais [nos 35 meses] ainda vai ser revisto [na tabela recém-divulgada] para cima e o que variou menos, para baixo", explicou, completando depois: "Nós, que somos técnicos, vamos comparar mesmo é com os índices atualizados."

Eulina disse que o fato de a ponderação representar participações relativas, sempre que um determinado item ganha muito peso - como ocorreu com veículo próprio, que passou de 7,4 pontos percentuais com base na última ponderação do IPCA, a de outubro deste ano, para 12% com base na ponderação da POF 2009 -, outros itens perdem necessariamente, mesmo que não tenham perdido importância absoluta nos gastos da população. "Se alguém pega mais balas do que todo mundo, alguém vai ficar sem bala", ilustra. As ponderações dos itens do IPCA, explica, são móveis e respondem aos aumentos ou quedas de preços.

Ela admite que há alguns itens que aparecerão com pesos menores depois da atualização que será feita em janeiro, em função da queda que apresentaram na tabela baseada na nova POF. Segundo ela, quando a POF foi divulgada em junho de 2010 ela "já mostrava que a educação perdia importância" nos orçamentos das famílias.

Mesmo sem querer fazer inferências quanto às razões, ela ressaltou que na época algumas justificativas dadas foram o aumento da rede pública de ensino, a transferência de filhos para escolas públicas devido aos elevados preços da rede privada e à redução do número de filhos por família. "Não significa que a escola [privada] ficou mais barata", alerta Eulina.

A técnica do IBGE disse também que, como o IPCA tem suas ponderações corrigidas mensalmente com base nas variações dos preços observadas no mês anterior - somente a cada cinco anos é que a correção é feita com base em nova POF, que atualiza os padrões de gasto/consumo da população -, a comparação dos pesos atuais com os da pesquisa fica distorcida.

Em relação aos serviços, que mostraram queda nos pesos baseados na pesquisa de 2009, Eulina disse que em janeiro, quando for feita a atualização, muitos deles passarão a ter pesos maiores. "Como os preços desses serviços cresceram muito nos últimos tempos, a atualização irá, automaticamente, aumentar seus pesos em relação ao resultado da POF", disse.

Um exemplo, segundo ela, é o item "empregado doméstico", cujo peso no último IPCA está em 3,68 pontos percentuais e na tabela baseada na POF de 2009 cai para 3,03 pontos. Embora entenda que muita gente vem abrindo mão de ter um empregado doméstico fixo, trocando por diarista para fugir aos custos elevados, ela avalia que o aumento do preço desse serviço deverá fazer com que seu peso cresça (em relação aos 3,03 pontos) quando for feita a atualização de janeiro.

Os números do IBGE revelam que, embora as ponderações da inflação oficial baseadas na última POF mostrem uma perda da participação relativa do empregado doméstico nos gastos das famílias, o item ganhou peso quando é comparado ao resultado da POF anterior, de 2002/2003, passando de 2,71% para 3,03% do orçamento.

No caso do veículo próprio, o aumento de peso de mais de quatro pontos percentuais na comparação da tabela baseada na POF 2008/2009 com a última ponderação do IPCA (de outubro de 2011), cai para menos de três pontos se comparado com os 9,33 pontos da tabela baseada na POF 2002/2003