Título: Três perguntas para
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 17/09/2010, Brasil, p. 9

Angélica Ivo, que teve o filho de 14 anos assasinado

A orientação sexual do filho, que só tinha 14 anos quando foi sequestrado, torturado e estrangulado com a própria camisa, em junho passado, no Rio de Janeiro, é o que menos importa para Angélica Ivo. Ela acredita, com base nas características do assassinato apuradas pela polícia, em motivação homofóbica e de ódio. A gente ouve falar, mas não conhece o crime de ódio. Só quem perdeu alguém com tanta brutalidade pode imaginar o tamanho da violência, lamenta.

A senhora acredita na motivação homofóbica?

Dois dos amigos do meu filho tinham a orientação homossexual. Eles estavam numa festa antes de o Alexandre voltar para casa, quando foi assassinado. Lá, houve uma briga que não chegou ao Alexandre. Mas, quando ele saiu, foi abordado pelo grupo, espancado e estrangulado. Por tudo isso, acredito que a motivação tenha sido essa. Vemos, pelas características do ato, que se trata de um crime de ódio. Meu filho sofreu muita violência, tanto psicológica quanto corporal. Fizeram de tudo que você pode imaginar e depois o estrangularam.

Mas o Alexandre era homossexual?

Não posso dizer o que nunca ouvi dele. Ele tinha apenas 14 anos, estava em formação, e nós nunca havíamos conversado sobre isso. Mas se ele era homossexual ou não, continuaria sendo meu filho da mesma forma. Isso não faz a menor diferença. Não me incomodo em responder que não sei a orientação do Alexandre porque, de fato, nunca conversamos sobre o assunto.

Qual o objetivo da vinda da senhora a Brasília?

Recebi um convite, até porque devido à lentidão dos trabalhos da polícia, acionamos a Secretaria de Direitos Humanos e outros órgãos. Então o caso ganhou amplitude, a senadora Fátima Cleide, que tem um projeto para criminalizar a homofobia, foi para o plenário falar da barbaridade que o Alexandre sofreu, e os ativistas também passaram a acompanhar. Portanto, acho importante falar do processo pelo qual estamos passando e cobrar justiça.