Título: Moody's eleva nota de crédito do Brasil às vésperas das eleições
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2006, Finanças, p. C2

Faltando um mês para as eleições presidenciais, a Moody's elevou a nota do crédito em moeda local e estrangeira do governo federal do Brasil de "Ba3" para "Ba2". A perspectiva é estável, indicando que a tendência é de a nota se manter no curto prazo.

A Moody's foi a última das três mais importantes agências de rating a colocar a dívida do país dois degraus abaixo do "grau de investimento", espécie de selo de investimento não-especulativo. As outras duas agências, a Standard & Poor's e a Fitch Ratings, dão nota "BB" ao Brasil, o equivalente aos "Ba2" da Moody's. A S&P elevou a nota brasileira em março e a Fitch, em junho.

Segundo explicou ao Valor o mexicano Mauro Leos, vice-presidente da Moody's, tudo indica que o governo brasileiro vai manter um "forte compromisso" com uma meta de superávit fiscal primário (sem considerar juros) "independentemente do resultado das eleições". Além disso, o Banco Central é hoje uma instituição com grande credibilidade, diz. "A política monetária e a sistemática de metas de inflação têm funcionado corretamente e vão continuar possibilitando uma redução nos juros básicos Selic", avalia o analista.

A melhoria no perfil da dívida pública, com redução da parcela indexada ao câmbio e aos juros, torna o país menos suscetível a mudanças no cenário interno ou externo que impactem a cotação do real ou exijam uma mudança na política monetária, acredita. Além disso, acrescenta ele, uma redução no total da dívida externa de 30% em relação ao seu pico ajudou a melhorar todos os indicadores de vulnerabilidade externa brasileiros, comenta.

Tudo indica que esse processo de melhoria no perfil da dívida vai continuar nos próximos anos, diz. Uma redução no crescimento econômico dos EUA, segundo ele, não é suficiente para alterar esse cenário, pois o Brasil hoje possui uma pauta de exportações diversificada e vende seus produtos para os mais diferentes mercados e países.

Segundo Leos, um novo aumento na nota de crédito brasileira depende principalmente de melhorias fiscais. A relação entre a dívida líquida do setor público e o Produto Interno Bruto vem se mantendo estável e precisaria se reduzir, defende. "O esforço fiscal tem sido grande, mas é necessário que os gastos públicos parem de crescer", afirma. Para ele, é preciso mudar a estrutura dos gastos de forma a torná-la mais flexível e ampliar as despesas discricionárias. Ele propõe também nova reforma na Previdência.

Leos concorda que os economistas dos principais partidos políticos no país têm defendido essas mesmas mudanças, mas disse que o impacto no rating só viria se e quando elas efetivamente se concretizarem.

Além de mudar a nota de crédito do governo federal, a Moody's alterou o "teto" para os ratings dos emissores do país, de "Ba2" para "Ba1", apenas um degrau abaixo do "grau de investimento". O "teto" em moeda local e a referência em moeda local - os ratings mais altos que um emissor de dívida interna ou título em reais pode chegar - subiu de "A3" para "A1". Todos esses ratings têm perspectiva estável.