Título: Reflexo da crise, queda de preço reduz rentabilidade do exportador
Autor: Watanabe,Marta
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2012, Brasil, p. A4

Reflexo da crise, a queda de preços de exportação já afetou a rentabilidade dos exportadores na margem. A redução do preços das commodities vendidas pelo Brasil ao exterior provocou queda de 2,4% no índice de rentabilidade das exportações, na comparação de novembro com o mês anterior, embora o acumulado do ano até novembro ainda apresente ganho de 7,5% em relação ao mesmo período de 2010. Os dados, divulgados hoje, são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Entre os segmentos que contribuíram para a queda de rentabilidade na margem estão os de extração de minerais metálicos, com baixa de 13,8%, o de couros e calçados, com redução de 2,6% e o de celulose e papel, com queda de 2,7%.

Rodrigo Branco, economista da Funcex, diz que a queda de preços acabou tendo um reflexo mais forte que a desvalorização do real frente ao dólar na margem. A queda de rentabilidade na margem mostra uma influência mais forte dos preços desses itens, que vêm perdendo força nos últimos meses. Trata-se de um movimento em sentido inverso do detectado até agosto, quando a alta de preços das commodities foi o grande motor do aumento de rentabilidade total. A partir de setembro, a desvalorização do real frente ao dólar passou a ter um papel mais importante ao distribuir o ganho de rentabilidade, até então concentrado nos básicos, para praticamente todos os segmentos de atividade. Pouco a pouco, porém, o efeito preço foi voltando a ganhar importância, só que desta vez contribuindo para a queda nas margens de ganho dos exportadores.

Branco acredita que a rentabilidade de dezembro também deve manter a mesma tendência apontada em novembro, com queda da margem, tirando um pouco do ganho acumulado. Mesmo assim, a exportação total deve ter encerrado o ano de 2011 com elevação na taxa de rentabilidade. A tendência mantém-se ainda para 2012, lembra o economista, já que a perspectiva é de continuidade de queda paulatina no preço dos básicos.

"Neste ano vamos continuar nessa direção enquanto não tivermos a reversão da crise. Enquanto não houver uma evolução de estagnação para crescimento a tendência não mudará no curto prazo", diz Branco.

"Os preços ficaram muito voláteis nos últimos meses, com um resultado líquido de queda", diz Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria. Para ele, os preços devem manter esse patamar um pouco mais baixo nos próximos meses. A expectativa da consultoria, porém, é que haja uma reação no segundo semestre, com a acomodação da zona do euro e uma reação melhor da economia americana. Para Campos Neto, os preços permanecerão voláteis mas não terão, necessariamente, uma média mais baixa que a de 2011. A tendência mais esperada é de estabilidade com possibilidade de recuperação no segundo semestre.

As estimativas da Tendências para a balança comercial deste ano, portanto, não preveem queda no valor das exportações. Segundo estudos preliminares da consultoria, diz Campos Neto, o saldo de 2012 deve ficar em torno de US$ 25 bilhões (uma pequena queda em relação a 2011), com pequeno crescimento das exportações e das importações.