Título: João Costa aposta em convênios para aumentar popularidade
Autor: Camarotto,Murillo
Fonte: Valor Econômico, 04/01/2012, Política, p. A6

A Prefeitura do Recife entra no último ano da atual gestão tendo captado mais de R$ 4 bilhões em parcerias para obras na cidade, a maior parte via convênios com o governo federal. Além da execução pura e simples dos projetos previstos, a aplicação de tais recursos poderá ajudar a consolidar o nome do contestado prefeito João da Costa (PT) para o processo eleitoral que se aproxima.

Em baixa com a população e desprestigiado por boa parte da classe política, inclusive em seu próprio partido, ele terá nos próximos meses a última chance de tornar viável sua candidatura, hoje considerada de alto risco. Na última pesquisa Ibope, divulgada pelo Ibope no fim de dezembro, João da Costa amealha apenas 24% de entrevistados que consideram sua administração boa ou ótima.

Para tentar reverter este quadro, o prefeito deve intensificar as inaugurações de obras, anúncios de investimentos e a propaganda. O orçamento municipal vai ajudar. Estão previstas para 2012 receitas totais de R$ 3,94 bilhões, quase R$ 1 bilhão a mais que em 2011.

Logo que assumiu - em janeiro de 2009, após vitória em primeiro turno -, João da Costa entrou em um inferno astral sem fim. Primeiro, brigou feio com o antecessor e padrinho político, o hoje deputado federal João Paulo Lima e Silva (PT). Os motivos ainda não foram esclarecidos e são frequentes as situações constrangedoras protagonizadas pelos dois, que nem sequer se cumprimentam.

A briga acabou prejudicando a imagem do atual prefeito junto à população, que dava índices elevados de aprovação ao carismático antecessor. O perfil mais técnico e recatado de João da Costa acabou refletido em sua administração, considerada tímida e sem identidade. No fim de 2010, ele teve que se submeter a um transplante de rim e ficou três meses afastado da prefeitura.

Aliado a isso, o trânsito caótico do Recife, os alagamentos e a má conservação de ruas e calçadas dão contornos à situação delicada do prefeito petista no âmbito administrativo. A falta de habilidade política também afastou aliados importantes, tornando quase impossível para ele receber o apoio integral da Frente Popular, grupo de partidos encabeçado pelo governador Eduardo Campos (PSB) e que hoje domina a cena política em Pernambuco.

A atração dos R$ 4 bilhões em parcerias é considerada o grande destaque dos três primeiros anos de João da Costa, segundo avaliação da secretária municipal de Gestão e Planejamento, Evelyne Labanca. "Existe, nessa administração, uma grande capacidade de articulação na preparação de projetos visando à acumulação de recursos. É um esforço cotidiano", disse ela.

Do montante total atraído, cerca de R$ 600 milhões já tiveram projetos iniciados, com destaque para obras no sistema viário e para a construção de moradias. A área habitacional é outra que tem avaliação positiva por parte da prefeitura, que entregou nos três primeiros anos 2,2 mil residências. "A média anual é superior à gestão anterior", comparou a secretária.

Em mobilidade urbana, a prefeitura está tocando a construção da Via Mangue, um antigo complexo viário que promete desafogar o trânsito na zona sul da capital pernambucana. Ao custo total de R$ 433 milhões, é esse o único empreendimento oficialmente atrelado à Copa do Mundo de 2014 que está a cargo da Prefeitura do Recife, apesar de contar com generosa fatia de dinheiro federal.

A oposição vê na fragilidade do atual prefeito a chance de retomar o poder, perdido nas eleições de 2000. Principal nome do grupo na Câmara Municipal, a vereadora Priscila Krause (DEM), filha do ex-governador e ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause (DEM), considera "catastróficos" os três primeiros anos de João da Costa. "Apostava-se muito nele, no seu perfil técnico. Mas ao longo desse período, nem o técnico nem o político apareceram", critica.

A falta de projetos novos e de uma identidade para a gestão também foram lembrados pela vereadora. "Não há planejamento nenhum, tudo varia de acordo com o momento", diz a vereadora, antes de apontar problemas graves de ineficiência nos serviços de drenagem de canais, limpeza urbana e iluminação pública. "Isso sem falar na educação, que só faz piorar", completou.

Nessa área, a Prefeitura do Recife diz que vai construir, na atual administração, 23 centros municipais de educação infantil (Cemei), porém ainda não inaugurou nenhum. "Estamos avaliando o cumprimento do programa de governo, avaliação essa que só estará concluída próximo do final da gestão", afirmou a secretária de Planejamento. Em 2012, ano eleitoral, algumas unidades deverão ser entregues.