Título: "Tenho alianças com quem quer me apoiar", diz Lula
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2006, Política, p. A11

O presidente e candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT) minimizou o apoio de políticos envolvidos em denúncias de corrupção à sua campanha, em entrevista ao "Jornal da Globo" na madrugada de ontem, Ao responder à pergunta se não se constrangia com a presença do deputado federal Jader Barbalho (PMDB-PA) no conselho político de sua campanha e do apoio do senador Ney Suassuna (PMDB-PB), suspeito de envolvimento no escândalo das sanguessugas, Lula afirmou ser preciso separar o conselho político de alianças políticas.

"Vamos separar o conselho politico das alianças políticas. O conselho é representado por pessoas que integram os partidos que me apóiam e dentro do PMDB tem uma parte que me apóia. Não escolho quem participa das reuniões e também não veto, porque não sou juiz para julgar as pessoas. As pessoas estão exercendo seu mandato, foram eleitas democraticamente pelo povo. O que você pensa ou o que eu penso das pessoas se torna muito subjetiva se elas conquistaram o direito de ser mandatárias de um cargo público.

Sobre o apoio do candidato a senador pelo PMDB mineiro, Newton Cardoso, histórico adversário do PT, o presidente disse que tem o apoio de quem quer apoiá-lo. "Tenho as alianças com quem quer me apoiar. Aliança é como casamento. Você muitas vezes só casa quando encontra o par certo que gosta de você e quer casar. Não adianta ficar achando 'olha, não quero casar com fulano', porque se você gosta dela você vai casar."

Ainda sobre as alianças, o presidente voltou a criticar a legislação eleitoral, que, segundo ele, impede a realização de alianças completas". "Estamos na situação de alianças políticas por causa da lei que foi feita, que não pode fazer aliança completa. Tem um problema na legislação complicado."

Lula desconversou sobre o fraco desempenho do PT nas campanhas aos governos, já que o partido só aparece com chances de vitória em três Estados (Acre, Piauí e Sergipe). O jornalista William Waack questionou se o eleitor estaria reprovando a legenda. "Olha, para dizer que o PT não vai bem nas pesquisas é preciso dizer quem vai melhor. Se tiver algum partido que vai melhor do que o PT, reconheço que o PT não vai bem." Afirmou também que, passadas as eleições, "os partidos que tiverem menos votos vão ter que se ajustar e fazer as coisas de forma mais correta daqui para a frente".

O presidente foi questionado ainda sobre a falta de previsão do seu programa de governo de reduzir impostos nos próximos quatro anos, caso seja reeleito, e sobre o aumento da carga tributária na atual gestão. Lula respondeu que não houve aumento de impostos, mas sim maior eficiência na arrecadação. "Teve redução de imposto de renda. Reajustamos a alíquota duas vezes depois de ficar cinco anos sem ser reajustada. Desoneramos R% 19 bilhões de impostos e vamos continuar desonerando."

Também criticou a não-aprovação da reforma tributária em sua totalidade pelo que chamou de vontade dos Estados de permanecerem fazendo guerra fiscal. "Em 2003 fui até o Congresso com 27 governadores levar a reforma tributária. A parte federal foi votada. A dos Estados está no Congresso porque eles pretendem continuar a guerra fiscal." (CJ)