Título: Mantega insiste em alta de 4%, mas no governo já se admite um ritmo menor
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 01/09/2006, Brasil, p. A3

Os ministros da área econômica insistiram, ontem, que o país ainda pode terminar o ano com um crescimento de 4%, apesar do resultado fraco do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre do ano. Mais próximo do Palácio do Planalto, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, admitiu que o crescimento pode ser menor. Ele situou a previsão para o ano entre "3,5% e 4%".

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, considerou sazonal o desaquecimento do PIB brasileiro no segundo trimestre e disse que dados preliminares indicam retomada do crescimento já a partir de julho. "A economia está crescendo a 4% e evidentemente existe sazonalidade", disse Mantega após reunião com o candidato do PT ao governo de Minas Gerais, Nilmário Miranda.

"Nosso crescimento não é contínuo e igual. Cada trimestre tem comportamento distinto. Todo mundo esperava desaquecimento no segundo trimestre, o que de fato houve por razões conhecidas." Segundo ele, a Copa do Mundo, a greve dos fiscais da Receita Federal, operações de manutenção em plataformas da Petrobras e a queda das exportações afetaram negativamente, mas de forma pontual, a evolução do PIB de abril a junho.

"Estamos crescendo de forma robusta. O mercado interno está sólido e estão sendo ampliados a massa salarial e o nível de emprego", insistiu Mantega. Ele disse que o corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros, definido na quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom) não terá efeitos imediatos sobre a atividade econômica, mas terá reflexos positivos entre seis e oito meses.

Mantega sugeriu que a redução da taxa de juros deve continuar nos próximos meses. "A previsão da inflação para 2006 começou em 4,5%, foi para 4%, 3,8% e está em 3,5%. Daqui a pouco vai para 3%. Há espaço para a queda da Selic."

O ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, admitiu que o resultado do PIB ficou aquém do esperado pelo governo, mas argumentou que o importante é olhar para o longo prazo. Para ele, o país chegou em um ponto em que é possível crescer de forma sustentável, mas para isso será preciso vencer alguns desafios, como retomar as reformas e encontrar uma definição para Desvinculação das Receitas da União (DRU) e a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), que deixam de vigorar no final de 2007.

Sobre a política de juros, ele acredita que o Banco Central não errou ao manter a taxa básica de juros tão elevada por tanto tempo. "A redução da inflação deu um ganho enorme para o trabalhador." Ontem, a taxa Selic sofreu um corte de meio ponto percentual, para 14,25% ao ano. Para Bernardo, esse processo de corte irá continuar nos próximos anos. "A Selic daqui a quatro anos vai ser chamada de "seliquinha."

O secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, acredita que, apesar do fraco desempenho do PIB no terceiro trimestre ainda é possível o Brasil fechar o ano com um crescimento entre 3,5% e 4% do PIB. "Existem trimestres, como o quarto, que são mais fortes. O mais importante é que temos crescimento com inflação baixa", ressaltou o ministro.

Segundo o ministro, a oposição pode continuar criticando e apresentando suas "previsões catastrofísticas", que acabam não se concretizando. "Temos apresentado um crescimento simultâneo do mercado interno e externo. Além disso, a economia popular está muito bem", prosseguiu Dulci. (Paulo de Tarso Lyra, de Brasília, como agências noticiosas)